Collor foi derrubado pelas mesmas pessoas, empresas e instituições que o colocaram lá. E, vaidoso e arrogante, demorou a entender que ele não era líder popular coisa nenhuma. E por isso foi destruído por quem construiu sua vitória inexplicável. Por que foi derrubado? Porque criou um feriado bancário de quatro dias, bloqueou contas correntes e investimentos e acabou com operações “ao portador” (um golpe certeiro e quase mortal na sonegação de impostos) sem combinar com ninguém, sem se acertar com o mercado.
Bolsonaro tem uma história parecida. Foi posto lá também para evitar alguém progressista (ou de esquerda, se preferir). Colocou no comando dos assuntos econômicos alguém da confiança do mercado financeiro, com uma pauta de “reformas & privatizações” que começou a se desenhar nos anos 1990 (exatamente com Collor) e, prometida por FHC, não foi executada (FHC dizia que os tucanos ficariam 20 anos no poder, e com calma ele executaria toda a pauta).
Veio Lula e ficou 8 anos. Veio Dilma e conseguiu governar por 4 anos. Caiu Dilma e a agenda voltou com força, jeitão fake de “unanimidade nacional” e muita pressa. Temer fez duas das reformas: a Lei do Teto de Gastos, que engessa o serviço público por 20 anos e a Reforma Trabalhista, que barateia o trabalho para as empresas.
Bolsonaro ganhou a eleição (segundo ele, fraudada) e enviou a Reforma da Previdência para o Congresso, que a arredondou e aprovou, com sacrifício do futuro dos trabalhadores.
Pronto, é o que conseguiram de Bolsonaro e Guedes. Nem antes e nem depois disso fizeram ou tentaram qualquer outra coisa. Exceção: privatização e venda do petróleo do pré-sal.
O que explica isso? Um palpite.
Bolsonaro sabe que não pode entregar as reformas que faltam e que lhe pedem os mais ricos e mais poderosos. Se entregar, transforma-se num inútil. Se não entregar e conseguir continuar enrolando e levando a turma no bico, mantém a esperança e vai consumindo as folhas do calendário. Para fazer passar o tempo, joga com a comunicação e com a própria esperança dos ricos e poderosos.
O problema dos ricos e poderosos e suas reformas é que eles sabem que só figuras como Temer e Bolsonaro se dispõem a bancar essas reformas. Ninguém vende essas ideias ao povo, ninguém apresenta essas reformas como plataforma numa campanha por votos. Temer e Bolsonaro, frágeis em legitimidade e bom senso, não são suicidas, claro. Temer não era, Bolsonaro não parece.
E Guedes, qual o seu papel? Nenhum, ele não pode fazer nada, além de levar e trazer os recados de um lado para o outro.