Quando Batman está travando sua luta contra Superman, ele afirma que este “não é valente”, uma vez que “valentes são os homens”. O excerto é um dos vários dos quais é formado Batman vs Superman: A origem da Justiça (2016). A adaptação da história da DC Comics para o cinema pelas mãos do diretor Zack Snyder assume-se como um filme que aposta num movimento que alia carga dramática com a ação que o universo dos super-heróis invariavelmente nos evocarão.
Invariável, também, é o fato de que o 7º longa metragem do realizador americano foi uma das mais bem elaboradas estórias sobre dois desses personagens mais importantes do universo das HQ`s. Colocando de lado as paixões que um trabalho como esse pode refletir, antes, vale entendermos: estamos falando de cinema aqui. E como arte, A Origem da Justiça aloca referências múltiplas que vão além das vias exploradas pelos estúdios Warner e DC até então.
Desde O Homem de Aço (2013), um novo Superman foi representado. Assim como a trilogia de Christopher Nolan (2005-2012) também deu luz a um outro Batman. Em suma, falamos de outros olhares acerca de características há tanto explorados. Snyder trabalha com a ideia de um Clark Kent e Bruce Wayne mais humanos. E apesar de serem super-heróis esses personagens são tão frágeis quanto nós, espectadores que os assistimos nas telas.
Essa busca por tal equivalente de fraqueza certamente é o ponto mais forte da obra. Se esses heróis são tão incríveis e parecem capazes de fazer qualquer coisa, por que não pensarmos neles a partir daquilo o que eles têm de mais falho: seus medos? Assim, Superman se questiona sobre sua relevância aos olhos do mundo ao mesmo tempo em que Batman se vê ainda envolto pelos traumas da sua infância e o seu espírito revanchista ante o clima de desordem que os eventos de ao “Homem de Aço”, sucederam.
É claro que em termos de sentido “A origem da Justiça” é apenas uma adaptação de HQ`s e seus derivados. Entretanto, é o modo de olhar da realização que dota o filme de algumas camadas positivamente sobrepostas à esfera do gênero. Snyder cortou certos traços e implementou outros que juntos criaram uma estrutura coesa e destituída de vícios, como as “piadinhas” que as personagens dizem entre si nos momentos de tensão e após eles.
Em 152 minutos de metragem, o longa só revela isso em 2 ou 3 momentos. Mais importante para a direção se mostra o cinema como processo. E passando do conteúdo para a forma, estamos diante de um filme de super-herói que entende a câmera como uma ferramenta que é fim, não meio.
Essa organicidade é que vemos nas tomadas de perseguição dos carros ao estilo “Buillit”, ou no fato do Batmóvel não ser um dado gerado em computador, mas sim um carro com estrutura metálica se movendo no set e arrebentando tudo que se encontra em sua frente, de containers a navios em um porto. E enquanto procedimento, isso é o que o cinema é.
Olhar para Batman vs Superman como um grande quadro montado por partes parece lógico. E na miríade de pontos que haveriam de ser colocados, acertadamente optou-se na realização costurada naquilo o que a estória pode ceder do detalhe ao essencial. E o detalhe é a metonímia. A parte pelo todo em uma tomada que por ela mesma soma sentido no filme por meio da sua forma. É o close da mão de Superman abrindo a portinha do tribunal no Senado americano como o máximo de sutileza. E pela sugestão o riso nos vêm.
Obviamente que o macro também reside na obra. A sequência de abertura retoma toda a destruição de Metrópolis, por exemplo. E aí, o uso do CGI, ou a computação gráfica, se reduz aos momentos nos quais a tecnologia se torna imprescindível. A batalha dos heróis contra Apocalipse resume isso.
Mas se temos um momento onde Batman enfrenta um grupo dos capangas de Lex Luthor (Jesse Eisenberg) num depósito fechado, Snyder grava isso por meio de um belíssimo plano sequencia numa orquestrada tríade entre espaço-câmera-atores. É o cinema fazendo o mínimo que a ele cabe.
E olhando para a cinematografia de autor como um progressivo exercício de novas e usuais escolhas estéticas e estilísticas, o olhar de Snyder segue com Batman vs Superman sendo o mesmo iniciado no início dos anos 2000 com “300” e refinado com o majestoso “Wacthman” (2008). Os personagens do seu cinema são complexos, oblíquos.
Por isso o Cavaleiro das Trevas, agora, fere seus inimigos, fala palavrão, e juntamente com o Homem de Aço se referencia de linguagens múltiplas como as que encerram os games e as animações. O universo das adaptações dos quadrinhos tem se encontrado cada vez mais por meio dos seus próprios universos expandidos. E isso é algo muito positivo. A Marvel comprova isso.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Batman vs Superman: Dawn os Justice
Tempo de Duração: 152 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2016
Direção: Zack Snyder