Bancada da Bala: uma onda na maré conservadora, por Angela Ferreira

Nesses últimos anos, o contexto político do país tem sido marcado pelo aumento da exposição de bandeiras e discursos de direita na opinião pública, bem como pelo surgimento de novas lideranças e grupos políticos que se declaram representantes e porta-vozes dessa nova tendência. Recentemente, as eleições para o legislativo federal configuraram um ponto de inflexão dessa perspectiva de crescimento da direita, que passou a deixar suas marcas também no campo da representação política. A eleição do que ficou conhecido como o “Congresso mais conservador do período pós-1964”; o aumento de 25% no número de ex-policiais eleitos como deputados estaduais ou federais; as discussões em torno de projetos como o da redução da maioridade penal; da terceirização das atividades-fim; o lobby das indústrias de armas contra o Estatuto do Desarmamento; as resistências em torno dos projetos de criminalização da homofobia e da inclusão de discussões de gênero no currículo escolar; todos esses exemplos notórios, entre outros, podem ser identificados como os sintomas mais recentes do crescimento da chamada onda conservadora.

Quando olhamos por essa perspectiva geral – e o termo onda conservadora pode nos levar a tomar essa posição analítica –, somos tentados a caracterizar o fenômeno como um movimento de direção única, isento de ambiguidades ou composto por atores mais ou menos homogêneos e com fins parecidos. Entretanto, uma análise mais detida sobre o problema coloca em dificuldades essa compreensão abrangente, revelando uma diversidade de posicionamentos à direita. O que está desenhado é uma multiplicidade de movimentos que buscam caminhar em direções próprias. Possuem discursos, finalidades e públicos distintos, mas, por manterem alguns pontos de contato mais ideológicos do que práticos – e se aproveitando de um contexto político favorável –, acabam ganhando corpo e uma direção mais ou menos consistente e articulada de acordo com a situação e os interesses em jogo.

Ronaldo Almeida, em um recente debate sobre os rumos e a natureza dessa nova direita, cunhou uma expressão que permite um enquadramento mais preciso da composição deste fenômeno: a direção política e social da direita brasileira contemporânea é o produto resultante de diversas forças, que estão em justaposição, mas acenam em direções próprias. Nesse sentido, cada fenômeno pode ser interpretado como uma pequena onda, mas que no plano geral configuram, portanto, uma maré conservadora.

Trechos do livro Direita, Volver! O retorno da direita e o ciclo político brasileiro. VELASCO E CRUZ, Sebastião; KAYSEL, André; CODAS, Gustavo (Org). São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2015.

Angela Ferreira

Graduanda em Ciências Sociais na Uece.