Apesar do avanço das cidades sobre o modelo rural, dizia Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, apesar dos novos valores que se disseminavam, da mudanças que ocorriam no país, o modo de pensar brasileiro continuava o mesmo do século anterior. Buarque de Holanda observava que o brasileiro é mais receptivo à declaração peremptória, definitiva, ainda que vazia de conteúdo, mas que não obrigue a pensar. O brasileiro prefere mais a conclusão do que a demonstração, “o que fazer” ao “como fazer”, valoriza mais quem critica do que quem faz. Anotava o mestre que outro aspecto amplamente valorizado é o negativismo, calcado em afirmações peremptórias que jamais apontam rumos, mas sempre sugerem a salvação. Até nossos positivistas – dizia ele – eram “negativistas”, misturando o discurso moral ao da negação de tudo, como se, negando tudo, se chegasse por milagre à solução.
Trecho do livro O Jornalismo dos anos 90, de Luis Nassif, Editora Futura.