As reformas constituem uma outra etapa do Plano Real, por HAROLDO ARAÚJO

 

O brilhante, ex-ministro, Rubens Ricupero praticamente saiu de cena por uma declaração sincera e que a imprensa não perdoou e tornou pública de forma cruel. Ele sempre demonstrou seu profissionalismo e amor ao Brasil. Estava com o jornalista Carlos Monforte da rede Globo em entrevista que seria gravada à espera do sinal para entrar no ar, quando disse: “O que é bom a gente mostra e o que é ruim a gente esconde”.

O Brasil passava por momentos difíceis e precisava de credibilidade para rolagem de suas dívidas, assim como para tomar empréstimos e financiar o crescimento econômico. O nosso problema era a absoluta falta de referências, principalmente na realização das trocas, por que? Porque tínhamos que debelar uma hiperinflação. Nosso país desafiava todas as leis da economia, porque mesmo diante de inflação de mais de 2.000%, não parou sua economia!

Uma estrutura de gestão pública inacreditável funcionava com toda aquela perda de poder de compra de nossa moeda. Os orçamentos públicos eram mascarados pela própria inflação. Muitos aplicadores se encantavam com o aumento do valor de suas poupanças e se sentiam milionários com a correção monetária. Uma irrealidade que não permitia planos estratégicos e mais parecia com um jogo em que todos sabiam que, talvez, apenas, o governo ganhasse.

O governo ganhava com o chamado Imposto Inflacionário ou “Senhoriagem”, este último termo tem sua origem em denominação de uma taxa paga ao “Rei” pelo “Nobre” para receber a concessão de cunhar moedas em seu feudo. Os desvios nos orçamentos ficavam camuflados em contas que sofriam correções. Portanto, ninguém tem a menor sombra de dúvida que o aumento sofrido nas contas, também não redundavam em disponibilidades para mais obras.

Com o Plano Real, muitos governos, no âmbito dos estado e municípios, pensaram que seria mais um plano que fracassaria. São passados 25 anos e os governantes ainda não conseguiram arrumar seus orçamentos, e, por via de consequência, não se conscientizaram de que a cultura inflacionária teria que ser trocada por uma cultura do respeito à moeda. Precisamos nos conscientizar que as reformas, apenas, tratam de uma outra etapa do Plano Real, sempre adiada

Todos pensaram que ao fim da inflação com o Plano Real, pronto! Estávamos diante de um novo Brasil e com uma nova economia estabilizada. Primeiramente tínhamos que consolidar o plano. Como se sabe à falta de cumprimento de outras etapas que adiante explicitamos, todos têm a impressão que o problema é a moeda. Nosso povo parece não gostar de poupar e tem uma propensão ao consumo. A gestão no setor público esqueceu de fazer a segunda etapa do plano.

Rubens Ricupero é um jurista, historiador e diplomata brasileiro com proeminente atividade de economista e que tem contribuído de forma cabal com suas ideias na formação do pensamento econômico. Ele dizia que: “O Plano Real era apenas o começo do início do princípio, precisávamos de uma agenda para o Brasil pós derrota da hiperinflação se confundia com a agenda muito mais ampla do desenvolvimento econômico social e institucional do país.

Ricupero foi mais brilhante quando, complementarmente à questão da inflação, afirmou: “Um Brasil livre da droga da inflação, do seu zumbido e sua poeira que mascarrava orçamentos, nos impedindo de descortinar os verdadeiros problemas do país. Esses problemas continuam a assombrar-nos, para muitos como indecifráveis esfinges e quimeras. Costuma-se repetir nos meios acadêmicos, nem todas as quimeras serão indecifráveis e nem as esfinges nos devoram.

Apelamos para o bom senso das autoridades nas votações das reformas: “Uma etapa do REAL”

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.