AS NOSSAS ANTEVISÕES DE FUTURO NUNCA SE CONFIRMAM

NOSTRADAMUS SE DARIA MAL NO BRASIL…

Assistimos, indefesos e desinteressados, à internacionalização de um conflito longamente cultivado.

A radicalização de interesses muito pouco ideológicos, mas, sobretudo, fruto de incansável porfia de grupos ativistas, de identidade múltipla, vai nos levar, na etapa final desta corrida eleitoral anárquica, ao desastre.

Seja qual for o governo a sair desse trágico imbróglio eleitoral, vão lhe faltar as condições necessárias para a governabilidade.

De nada importará assegurar a maioria parlamentar nas casas legislativas. A nação está dividida e armada psicologicamente para um longo e continuado conflito. Trinta e dois partidos, empenhados na busca da sua razão política, elevarão significativamente o “custo eleitoral” e a sua participação no fundo partidário.

A mídia, tendo escolhido opções incertas, à falta de receita própria, renascerá turbinada pelo novo governo, arejada pelas dotações públicas, vertente inesgotável das empresas de comunicação ao longo das nossas muitas repúblicas e ditaduras.

A Internet e as redes sociais, sob a mira da mídia tradicional, pela concorrência inesperada que representam, entraram no rol dos pecadores, a grande ameaça ao que hipocritamente chamamos, no Brasil, de Estado democrático de direito.

O quadro político mostra-se incerto aos olhos de observadores céticos, que já não se amarram aos gurus de ocasião, às revelações populistas de um progressismo de opinião que encanta e seduz os incautos.

O cenário latino-americano não é animador sob vários aspectos, geopolítico, econômico e social. A democracia passou a ser repudiada, por aqui, nestes países periféricos e historicamente inexpressivos, como sistema dominado pelas “elites colonizadoras”; e como regime político a democracia perdeu, neste recanto da latinidade, a confiança pela sua “fragilidade”, em face dos desafios de uma sociedade em rota batida para um Estado coletivista e totalitário.

Os exemplos de fracassos de tentativas assemelhadas, no passado, não são avaliados pelos campos “progressistas”.

Antes, estes coletivos ideológicos encorajam movimentos radicais movidos pela tentação totalitária de domínio do poder nesta América Latina, mais latina do que se haveria de pedir e desejar…

O cenário que se abre aos nossos olhos, diríamos, traz consigo algo de trágico, conflitos a serem enfrentados longamente — o desastre do qual escapamos, até agora, por milagre, pela mão obsequiosa do destino. Sim, milagre: não haveria outra explicação a dar, com vistas a situações tão insólitas e a sucessos de tamanha magnitude.

O que nos salva e enche de esperanças é que, no Brasil, Nostradamus não emplacaria como adivinho e oráculo. Nada do que se prevê em relação às nossas antevisões de futuro dá certo. Esperança e pessimismo não se confirmam neste país de brasileiros. Nem mesmo as revelações da fé. Felizmente.

Dizia um velho filósofo da praia de Iracema, o Zé Goela, que o futuro é uma antevisão do passado.

Do futuro cuidaremos, no seu devido tempo. Por enquanto, inflamados pelo identitarismo patriótico que nos assola, ocupemo-nos da destruição do passado. Ignoremos essas raízes colonizadoras indesejáveis que nos trouxeram um halo de civilização — e mergulhemos na ancestralidade original, em busca das nossas profundas raízes culturais…

Fonte da imagem: encurtador.com.br/qtW89

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.

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