Houaxia é um conceito usado na China para designar “Civilização”, como propósito de definir e fixar os “povos das estepes” aos quais os chineses negavam o reconhecimento de sociedades organizadas. Eram os “não-chineses”, destituídos dos atributos que lhe são próprios.
Os gregos designavam, por sua vez, de “bárbaros” os grupos sociais primitivos constituídos de “não-gregos”.
Há no conceito “civilizado” um conjunto de atributos que refletem o grau civilizacional superior em que se encontra um povo em relação aos seus vizinhos ou com referência aos que não compartilham das mesmas origens, dos mesmos valores, do avanço dos seus conhecimentos, de uma história e da memória subjacente, em comum, de instituições e padrões de organização e de dogmas de fé que lhe conferência uma certa identidade compartilhada.
Trata-se, no fundo, de um conceito discriminatório utilizado para afirmar a superioridade de um país e do seu povo em relação a outras nações.
Uma ilustre personalidade deu-se conta, mercê de graves reflexões, que ao Brasil impõe-se um mergulho batismal em um penitente “processo recivilizatorio”. Sua Excelência não brande o nosso descuido em nosso favor. Antes, bem ao contrário, aponta para o primitivismo da sociedade em que nos organizamos, carentes do essencial de uma desejável conquista civilizatória.
Provavelmente, o ínclito magistrado contrapõe as conquistas e os avanços alcançados por outros países à indigência de uma sociedade primitiva de terceiro plano.
Até agora, entretanto, para angústia nossa, o ministro não deu mostras tranquilizadoras de onde encontrar o modelo que deveríamos usar.
Em um Mundo bipolar, cujas diferenças se acentuam e aprofundam celeremente, nada mais sobra como modelo do que as ideologias que correm em paralelo e irão nos jogar à esquerda, ou à direita, alternativas singulares, imposições incontornáveis para ingressarmos em um estágio civilizacional aceitável aos olhos do ilustre filósofo-constitucionalista.
As potências mais aguerridas de ideias e dotadas de “animus beligerante” trazem para si as virtudes que a civilização lhes confere. As demais, devem contentar-se com as sobras da “barbárie” que lhes cabe por justa injunção.
Neste lugar de solertes conjecturas, falávamos do Brasil e sobre ele, se estão lembrados, a propósito da receita de uma reinserção civilizatória a que nos deveríamos resignar, sem delongas. Uma espécie de expurgo de entidades mal vistas e indesejáveis, cerimônia de descarrego das nossas idiossincrasias ancestrais.
Pois aí está, que não nos faltem coragem, esperança e fé para que essas abluções bem lembradas pelos
Ministro nos abram os caminhos da Houaxia e nos deem força para alcançarmos este bravo mundo novo, em boa hora, a salvo da barbárie que nos ronda, “ad hunc modo”.