O Brasil é um lugar bom de se viver para os ricos. Se o cidadão tem dinheiro, pode educar os filhos em escolas privadas, pagar um plano de saúde complementar, morar num condomínio fechado e transportar-se num automóvel blindado. Ou seja, ele financia a substituição de todos os serviços públicos básicos com as fartas sobras do seu orçamento, com suas possibilidades financeiras, com sua riqueza.
O Brasil é um país ruim de viver para os pobres e remediados. Se o cidadão não tem rendimentos altos e reservas de capital, ele se submete e a seus filhos em precárias escolas municipais ou estaduais, sua família tem de esperar semanas ou meses para ser atendida no sistema de saúde pública, vira sardinha nos mal cuidados veículos dos transportes coletivos das concessões público-privadas e dispõe-se a arriscar a vida todo dia, toda hora ao simplesmente sair de casa, porque a segurança nas cidades é zero.
O Brasil rico não fala com o Brasil pobre. Quando um deles não está satisfeito, reage, mobiliza a imprensa, pressiona o parlamento, passa uma lei ou articula uma medida provisória, consegue um Refis, levanta um financiamento no BNDES, aplica uma rasteira em alguém ou dá um golpe, e, pronto, as coisas voltam ao, digamos, “seu devido lugar”. Quando o outro não está satisfeito, reclama com os amigos ou faz piada sobre o assunto, que a vida já é dura demais, e espera que a “crise” passe (as outras “crises” passaram), que as coisas vão melhorar.
Como o cidadão rico ou pobre poderá ver, no Brasil as instituições estão em pleno funcionamento. Funcionam de um jeito para uns e de outro jeito para outros. Leia, para isso, o primeiro parágrafo do artigo da jornalista Maria Cristina Fernandes, no jornal Valor, neste cinco de janeiro.
“O presídio Anísio Jobim e a Lava-jato têm em comum recordes na proporção de presos provisórios. A convergência levou juristas com atuação no sistema prisional e advogados com clientes na operação a partilhar críticas ao instituto. A coincidência para aí. As razões são opostas. A permanência prolongada de réus na masmorra de Curitiba é fruto da hiperatividade do Judiciário. O palco da degola amazonense é produto do seu descaso.”