Espalha-se pelo ar esta saudação sórdida que maculou a honra da Espanha e revolveu o passado obscuro do país, a memória deplorável deixada pela Inquisição, o encalhe maldito da “Legenda Niegra” e da morte estampada na cara desfalecida das gentes.
El generalissimo Franco, “Caudillo por la gracia de Dios”, foi certamente a figura cuja lembrança recorda os tiranos que a Europa produziu e abrigou , pelos tempos sem fim de uma civilização abarrotada de fé e de metáforas filosóficas, desde as origens mais remotas aos novos verdugos e às suas ideias — Mussolini, Hitler, Stálin, Trotski, Lenin, Pétain, Salazar, alemães, espanhóis, russos, croatas, curdos, alemães, italianos — soldados em armas, monges e prelados persignados pela agonia santa das revelações da fé.
Foram-se, perdidos nos rastros das razões mínimas da História. Esquecidos, porém lembrados pelos feitos trágicos cometidos à sua passagem. A marca da sua passagem hedionda perdurou como manchas terríveis de sangue derramado sobre a terra. Nesse chão umedecido por tanta iniquidade ficou o húmus que continua a alimentar os novos caudilhos de outra progênie. São, entretanto, verdugos e tiranos enrolados nas palavras perversas da servidão ou nos princípios generosos da ética, da moral e do patriotismo, a falarem em nome da lei e dos princípios mais respeitáveis, das ideias de justiça e da equidade, animados pela serena capacidade roubada aos justos e pela autoridade que se espera de quem acusa, julga e condena.
Governar e distribuir a justiça, nas longitudes máximas do direito, são atributos civilizacionais que esperávamos terem sido incorporados aos ideais que nos servem, a nós brasileiros, como aos homens dotados de inteligência e animados pelo respeito à vida.
Por quem dobram os sinos das nossas angústias, do medo e das esperanças desfeitas que os novos senhores do Poder nos impõem nestes rituais perversos de xamanismo retardado?
Imagem BBC