Amor ao poder e não à democracia, por Haroldo Araújo

Vivemos um momento singular de nossa tão contestada mudança de governo. Discordo do pensamento de quantos não desejam o sucesso dessa transição. Deixando bem claro que o sucesso da transição é o melhor para o Brasil e acredito ser também uma vitória para a consolidação do processo democrático vigente.

Aduzimos ao fato de que o Presidente Michel ter que governar em momento tão difícil e diante de fortes contestações da própria Presidente afastada que não seguiu o caminho de Fernando Collor renunciando. Ao contrário luta bravamente pelo Brasil certo? Não. Gostaria que fosse pelo Brasil, mas não é assim que vejo. Dilma luta pelo poder, porque se amasse o Brasil não nos faria passar pelo grave momento e de forma tão prolongada.

Afinal Michel Temer foi votado 4 vezes para vice, sendo duas vezes em 2010 e duas vezes em 2014, portanto questionar legitimidade de sua missão é descontruir nossas “Instituições Democráticas” e pouco recomendável também para a nossa imagem fora do Brasil. Felizmente ou não, essa postura de quantos criticam a atuação desinibida e assertiva do nosso atual Presidente parece emocional. Afinal queriam o que mesmo? A paralização de nosso país? Queriam que ele cruzasse os braços?

Entendo que Michel Temer faz um esforço grande para a governabilidade até quando diz que governa para nenhum partido e que não é candidato à reeleição. E o que diz? Que é Governo de “Salvação Nacional!” Exemplo claro de sua vontade de acertar é ter aprovado forte mudança na política a exemplo de ter sancionado a Lei das Estatais. Certamente tira oportunidades de quantos usam a política com vistas aos ilegítimos interesses corporativos e é um grande benefício ao Brasil os ditames da nova Lei.

Quem parte reparte, fica com a melhor parte ou dá o que tem! E isso o que é? Racional é que não é. Há de algum modo um grupo que demonstra de forma cabal ter forte desejo de ter de volta no comado da nação os mesmos gestores afastados ou a volta do governo anterior. O poder é inebriante.

O grupo afastado e que luta bravamente na comissão de impeachment pelo retorno tem agido de forma orquestrada (ou não?) Orquestrado com quem? Com entidades sindicais e grupos sociais em manifestações de rua e insiste na volta na volta de Dilma. O que menos se vê é a preocupação com os desdobramentos que a situação levaria o Brasil a sofrer e já vem sofrendo com esse impasse e ao contrário demonstra de forma indisfarçada uma atitude egoísta e pessoal que bem demonstra a falta de compromisso com nossos destinos.

A pergunta que faço é: Se Dilma diz que seu erro foi a aliança com o PMDB, porque levou tantos anos para perceber o erro? Durante todo o seu primeiro mandato (2010-2014) teve ao seu lado o PMDB e somente agora em 2016 quando foi reeleita e depois de 1 anos e seis meses do segundo mandato o engano foi percebido? A ficha demorou a cair ou faltou competência política para diagnosticar essa busca de postura menos emocional.

Inaceitável é tentar discutir a legitimidade de Michel Temer no comando da nação, por que? Porque foi legitimamente eleito para isso e indicado por Dilma que contesta. Se ela acha que foi um erro, precisa dizer por que. O que Michel Temer não poderia era negligenciar sua missão nessa difícil quadra de contestações a ponto de confirmar uma briga pelo poder e uma incapacitante cegueira política.

Em que ponto Michel Temer foi feliz? Foi feliz no exato momento em que se colocou na antítese do governo: Não quer o poder porque não quer reeleição. Sua postura é coerente com o que afirma: Quer fazer a transição. Essa postura de Michel já é uma revolução, porque de vinte anos para cá tivemos 3 Presidentes da República: Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff todos muito dedicados ao Brasil sim, mas certamente muito mais dedicados à sua continuidade no poder. Cada governou 8 anos!

Observem caros leitores que nos 22 anos ( 1964 a 1986) de governos militares tivemos 5 (cinco) Generais no comando da nação. Nenhum quis a reeleição! Agora observem também que nos últimos 22 anos (1994 a 2016) tivemos apenas 3 presidentes civis. Qual foi o período de maior alternância no poder, nos governos militares ou civis? Outra pergunta que faço: Temer se propõe a governar por apenas mais 2 (dois ) anos e para dedicar sua atenção ao Brasil e não à continuidade no poder! Então Temer queria tomar o poder? Seja você o Juiz!

O mais rigoroso dos generais que foi Castelo Branco demonstrou de forma cabal não ter nenhum apego ao poder e em 3 anos entregou a faixa, assim como Michel Temer deverá fazer, a entrega do poder ao sucessor e isso é amor ao Brasil e à democracia.

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

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