A solidão Criativa, por FÁTIMA TELES

O que é a solidão ? Diz-se que é o estado de quem está só. De quem sente a alma isolada.

O que é estar só? Quantas pessoas vivem acompanhadas e se sentem sozinhas? Quantas pessoas habitam casas e conversam apenas com os seus botões? Quantas pessoas  convivem com seus parceiros ou suas parceiras e no entanto tomam café sozinhos ou sozinhas e nem ao menos têm a companhia para o debate do jornal ou a leitura compartilhada do último livro ou o poema descoberto.

 

O que é a solidão,afinal?

 

Sempre lembro das palavras de Bauman: “o momento da história em que vivemos é marcado pela chamada modernidade líquida”. Tudo é feito para não durar, daí se explicam o culto à aparência, ao ter, ao consumo, às relações amorosas descartáveis, à incerteza, à instabilidade geral e ao individualismo da humanidade.

 

A pressa em viver o agora e a descartabilidade dos sentimentos aumentaram as estatísticas de forma imensurável. A solidão entra nos índices, como resultado da vida imediata, fruto do nosso egoísmo e da nossa falta de perspectiva no amanhã.

A corrida para o consumismo na exigência de preencher o vazio que nunca completa e a busca para encontrar alguém que lhe tire da situação de apartação é também a falta de amor a si mesmo e a ausência do encontro consigo mesmo e da ausência da conquista da própria companhia.

 

Penso que a solidão não tem a ver com isolamento e sim com o estado da alma, apenas. Na verdade ela faz parte da caminhada de cada um de nós. Há dias cheios e dias vazios. É necessário saber lidar com a mesma. Fazê-la criativa. Buscar o que  dá prazer ao espírito, e isso pode ser a leitura de um livro, um passeio pela Cidade, uma cadeira na calçada para apreciar as estrelas, escrever poemas, cozinhar, etc. A solidão criativa é a descoberta da própria companhia como uma grande companheira aliada a uma ocupação ou deleite. É saber-se só e gostar de estar só ou não incomodar-se em estar só.

 

A solidão pode servir de garimpo para a potencialidade humana. São nos momentos de crise, de afastamento, que pode-se desenvolver o que há de melhor na criatividade do ser. A escrita por exemplo é um salvamento e o hábito dela se tornará uma grande companhia de tal modo que haverá uma sintonia e um chamado entre as duas.

 

NÃO HÁ SOLIDÃO DE FATO. HÁ A FALTA DA PRÓPRIA COMPANHIA, HÁ A FALTA DE SER COMPANHIA PARA SI

 

Maria de Fátima Araújo Teles

Historiadora, Assistente Social,Pedagoga Especialista em Direitos Humanos e Psicopedagogia Institucional Professora Formadora da Área de Ciências Humanas do Ensino Fundamental II da Secretaria Municipal de Educação de Brejo Santo Escritora e Poeta Membro da Academia de Letras do Brasil, Secção Ceará

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Maria de Fátima Araújo Teles

Historiadora, Assistente Social,Pedagoga Especialista em Direitos Humanos e Psicopedagogia Institucional Professora Formadora da Área de Ciências Humanas do Ensino Fundamental II da Secretaria Municipal de Educação de Brejo Santo Escritora e Poeta Membro da Academia de Letras do Brasil, Secção Ceará