“Aquele que jura pela suástica deve renunciar a qualquer outra lealdade.”
Heinrich Himmler
“Patriotas, não há vagas nos hospitais para todos. Você que me apoia e sabe que o coronavírus é só uma gripezinha, recuse tratamento médico. Fique isolado e não seja fresco, que é tudo histeria da mídia, deixe os hospitais para os esquerdistas.”
Jair Bolsonaro
O nazifascismo mundial ganha forças graças aos mesmos ingredientes que levaram o mundo à segunda guerra mundial: a depressão econômica capitalista.
O Brasil esteve à beira de embarcar numa aventura similar protagonizada por parte da elite política conservadora, de segmentos religiosos pentecostais, de setores militares e econômicos brasileiros (com acentuada presença dos empresários do agronegócio) insatisfeitos com os resultados da eleição.
O putsch de 08 de janeiro flopou por conta de que não havia consenso majoritário entre a população brasileira e a sociedade civil organizada, bem como dos segmentos acima referidos (políticos, igreja católica, militares e donos do PIB), sobre a permanência de um governo que cedo demonstrou a quantas vinha.
Foi a primariedade golpista de elementos governamentais energúmenos e de sua intelectualidade pouco confiável (de gente como Olavo de Carvalho, de triste memória, Ivens Granda, etc.) que anistiou Lula como candidato capaz de vencer as eleições diante de uma avassaladora corrupção eleitoral a partir da máquina governamental e o uso midiático via internet de propaganda nazifascista.
A Alemanha de 1930 usou o rádio, então o novo meio de comunicação social de massa como elemento aglutinador de uma Alemanha sufocada pelo Tratado de Versalhes, do pós-guerra (primeira guerra mundial de 1914 a 1918), para resgatar o orgulho alemão ferido e do seu povo submetido a um processo inflacionário e de miséria social imposto a um povo culto.
O partido nazista alemão cresceu nas asas de um discurso de ódio contra os vencedores da primeira guerra mundial e no estímulo a uma virada de mesa pelo povo alemão. Deu no que deu.
O Brasil enfrentou, em 8 de janeiro, a primeira tentativa de golpe articulado pelos segmentos de direita mais recalcitrantes e de seus adeptos ingênuos que usando os novos meios de comunicação de massa da internet, e sob apelos patrióticos de brasilidade, conseguiu dividir o país numa polaridade que beirou uma guerra civil.
Três importantes ingredientes estavam dados:
– desemprego estrutural expresso numa taxa de cerca de 9% e num total de cerca de 10 milhões de trabalhadores desempregados;
– depressão econômica renitente há dez anos, com PIB médio de 1,0% aa. com a culpa de sua ocorrência colocada erradamente e intencionalmente pela mídia oficial e redes sociais como sendo fruto da corrupção política, e como grande culpada (que não é, ainda que contribua para a miséria social existente);
– descrédito do segmento político e seus partidos claramente fisiológicos.
Lula eleito, os golpistas desavisados acreditaram na possibilidade de sua destituição pelo golpe, mesmo que seus articuladores primários e covardes tivessem se ausentado do Brasil para se isentarem de eventuais represálias para o caso do fracasso que se prenunciava.
Os métodos políticos usados no Brasil de Bolsonaro são muito similares com aqueles usados na Alemanha nazista de antes de 1923 até 1933, mas principalmente após a ascensão de Adolf Hitler (um cabo do exército na primeira guerra mundial) ao poder.
O programa político nazifascista incorporava e praticava os seguintes métodos:
– criação de milícias paramilitares, como os camisas pardas, que promoviam arruaças violentas contra judeus, homossexuais, comunistas, ciganos, sociais democratas, alegando que o brio alemão conspurcado deveria ser restaurado em nome da pátria;
– uso ostensivo das insígnias simbólicas de sua doutrina, com a suástica embandeirada em desfiles monumentais (parecido com motociatas, não?) e tudo sob uma forma cartesiana de parada militar com o tradicional passo de ganso;
– propalava a superioridade da raça ariana à qual diziam pertencer, e como sendo portadores de uma inteligência superior adicionada a uma pretensa beleza e exuberância física;
– considerava como anomalias inaceitáveis de convivência aos pressupostos nazistas e prejudicial à coletividade germânica os portadores de necessidades especiais, aos quais relegavam um desprezo criminoso;
– promovia um exacerbado culto à personalidade do Führer (guia supremo em alemão) Adolf Hitler, como se fosse um Deus dotado de inteligência superior e capaz de conduzir a Alemanha ao apogeu do progresso nos vários níveis da existência humana, como um mito inquestionável;
– promovia putschs de agressivas violências (como o ocorrido numa cervejaria de Munique ainda em 1923, que frustrada, levou Adolf Hitler e Rudolf Hess à prisão e Hermann Göring, ferido, ao exílio na Áustria. Ali Hitler escreveu sua doutrina no livro Mein Kamp – Minha Luta -, e voltou como salvador da pátria ultrajada), que culminaram com a incêndio do parlamento alemão (o prédio do Reischstag), colocando a autoria de tal atentado aos comunistas, numa manipulação grosseira que serviu para o domínio político da esfera legislativa;
– manipulou o poder judiciário e intimidou-o de modo a que promovesse julgamentos claramente facciosos e imparciais de adversários políticos;
– estimulou o armamentismo da população e, principalmente, dos gastos com poderio militar capaz de dotar a Alemanha de grande poder belicista;
– usou a propaganda nazifascista pelo novo veículo de comunicação de massa, o rádio, apregoando mentiras até que fossem aceitas como verdades incontestáveis e absolutas;
– criou campos de concentração nos quais aprisionou os adversários políticos do nazismo, e posteriormente as etnias e doutrinas que consideravam nocivas aos seus interesses, e numa multiplicidade de tais estabelecimentos da morte industrializada cada vez mais numerosos;
– endeusou o trabalho abstrato (em Auschwitz, se lia na entrada “arbeit macht frei” – o trabalho liberta), ao mesmo tempo em que escravizava milhões de prisioneiros em trabalhos forçados, nestes campos e nas indústrias alemãs, principalmente de produção de armamentos de guerra;
– Promoveu o genocídio de 50 milhões de seres humanos durante a segunda guerra mundial, e entre estes de cerca de 27 milhões de russos, e especialmente de cerca de 6 milhões de judeus pelo simples fato de pertencerem à etnia judia, vindos de vários países dominados pelo regime nazista durante a guerra;
– terminou por ver a Alemanha destruída, derrotada, e com seu mito imortal (que projetava seu poderio por 1.000 para o 3º Reich) morto pelo cometimento de suicídio juntamente com sua mulher Eva Braun, seu sinistro Ministro da Propaganda Joseph Goebbels e mulher após assassinarem seus 6 filhos, e serem posteriormente incinerados.
Deu nisso.
O Brasil de 2018 vinha de uma crise econômica que explodiu em 2013, e estimulado por uma propagando midiática que colocou nos ombros da corrupção política uma culpa que é do capitalismo em fim de feira, e que satanizou a social-democracia elevando aos píncaros da glória políticos de direita, tão calejados como inexpressivos, mas que surgiam como outsiders, numa mentira implícita.
O programa bolsonarista (um tenente promovido a capitão do Exército por consequência de afastamento por indisciplina militar), incorporou e praticou os seguintes métodos:
– condecorou elementos identificados com as milícias cariocas, e incentivou seus adeptos às práticas abertamente de atitudes agressivas e assassinas, numa apologia do mal racista e homofóbica. O exemplo mais claro de tal comportamento é o ostensivo apoio ao ex-Deputado Federal e ex-mau-policial Daniel Silveira, que postava fotos quebrando placas da vereadora e feminista Marielle Franco assassina por milicianos nazifascistas;
– estimulou a criação dos Cacs – Centro de Caçadores, Atiradores e colecionadores de Armas – pela Lei 3.719 de 2019, forma disfarçada de armamento da população por entidades de colecionismo e tiro desportivo, que se multiplicaram no governo Bolsonaro, cujo gestual ensaiando tiro de metralhadora era símbolo de campanha;
– usou a internet e as redes sociais para a difusão mecânica de fake News, que aos milhões e diariamente difundiam mentiras sobre fraude eleitoral, ineficácia de vacinas, corrupção no judiciário, infiltração comunista, desconstrução de fatos históricos da luta contra o racismo, desconstrução de reputações, etc., etc., etc.;
– deixou de comprar vacinas afirmando que quem quisesse vendê-las que viesse oferecer, no exato momento em que o mundo disputava a preferência de compra das incipientes produções das ditas cujas, que salvaram milhões de pessoas mundo afora.
Além disso insinuou que as vacinas poderiam causar efeitos colaterais inesperados como alguém virar jacaré ou falar fino, e pari passu, estimulou o combate à pandemia entoa instalada com o uso comprovadamente ineficaz da Cloroquina, remédio de combate à febre amarela que jamais serviu para o combate ao vírus da covid 19 de triste memória.
O resultado disto é que o Brasil se tornou campeão mundial de mortes per capita por covid (relação população número de mortos), e um dos primeiros em números absolutos de morte (cerca de 700 mil). O governo Bolsonaro passa para história como tendo feito grosseiras alusões ao padecimento dos enfermos e ter se tornado genocida responsável por cerca de 300 mil mortes no Brasil, comportamento apurado detalhadamente na CPI da pandemia.
Além disso incitou a população a sair de casa para o trabalho por imagens de presença ostensiva do Presidente em lugares públicos de vendas por ambulantes, colocando em risco a contaminação do vírus transmissível por via aérea;
– estimulou, por seu Ministro do Meio Ambiente, o desenvolvimento predatório de atividades econômicas na Amazônia e até em terras indígenas, pela via da extração ilegal de minérios, derrubada de florestas para ampliação do agronegócio com estreita ligação com madeireiros (desarticulando instituições oficiais de combate à predação ambiental) e pecuária de corte e pesca predatória, fato que criou condições para o avanço do tráfico de drogas na região;
– promoveu manifestações patrióticas a cada domingo em Brasília nas quais se lia o apelo à restauração do AI-5 (que fechou o Congresso, cassou parlamentares e destituiu do emprego pessoas por presunção de subversão, prendeu e matou adversários) e ostensiva intervenção militar para um governo de exceção ao estado constitucional de direito;
– o Brasil continuou com resultados pífios do PIB, inflação alta e desemprego estrutural renitente;
– terminou por receber presentes valiosos possivelmente do governo da Arábia Saudita os quais tentou se apropriar como fossem privados, tal qual fazia Hermann Göring com as obras de artes que recebia ou saqueava;
O fim disso foi a derrota eleitoral, em que pese o uso da máquina administrativa com a distribuição de benesses de todo o tipo, cirando o orçamento secreto para emissão de emendas orçamentárias a parlamentares em seu apoio.
Perdido eleitoralmente, ensaiou um golpe estimulando seus fanáticos e desavisados apoiadores (e outros nem tão desavisados assim), ao golpe de 8 de janeiro, e foi assistir de longe à sua arquitetura neofascista.
Negar as semelhanças com o nazismo como estas é passar certificado de cegueira facciosa e se assumir como admirador do totalitarismo, doutrina de ultradireita que recebeu o apoio de tantos brasileiros incautos.
Mas o perigo nascifascista continua estimulado pela falência do capitalismo em fim de feira que impopulariza os governos sob a égide de tal forma de relação social, situação da qual se aproveita tudo que é gente mal-intencionada aos interesses populares.