A QUEM SERVIRIA A DESMILITARIZAÇÃO DO BRASIL?

À falta do quê fazer e dizer nestas festas de chegada, houve quem apontasse as forças armadas como fonte inesgotável de despesa, uma sangria impatriótica a ser estancada. E a necessidade de uma revisão dos seus limites constitucionais. 

Numa palavra, a nova militância, cega com a revelação da própria imprudência, remói   a ideia que a alguns militantes ocorre da supressão das forças  armadas. Esta conversa de feiticeiros sem vassoura ganhou espaço nos últimos dias, ao ritmo da dialética redundante de de alguns aprendizes de estadista. À primeira vista, não se trata de acerto, em atraso com a história, de uma busca legítima de um novo papel social e político para para os exércitos, tomados em sentido em sentido genérico. Trata-se, antes, de um acerto de contas ideológico derivado de velhas antagilonismos acumulados em passado recente, do qual se ressentem algozes e vítimas mal curados de uma longa peleja por concluir.

Com a vizinhança que nos cerca, mercê de tantas e tamanhas pendências mal resolvidas e um território pronto para ser compartilhado pelas ONGS, pelo bolivarianismo caudilhesco, pelas forças para-militares e por  algumas potências “amigas” — parece pouco provável que o Brasil possa manter integras as suas atuais fronteiras sem sustentação militar e  estratégica que permitam a sua defesa.

A mobilidade de fronteiras nacionais transparece na transpiração geopolítica e diplomática europeia, nestes dois últimos séculos. Culturas milenares viram-se privadas da sua unidade com a perda de  espaços  originários vitais. Constituíram-se Estados nacionais com a integração de áreas geográficas de importância significativa, mediante a incorporação de espaços culturais distintos sob uma mesma bandeira  territorial. Em dois séculos, as fronteiras da Europa, do Oriente próximo e da Ásia mudaram de lugar, avançaram e recuaram movidas por um sentimento para lá de humano, da busca do espaço vital. 

Nestas latitudes de elevada mobilidade territorial, concentravam-se os maiores e mais aguerridos exércitos do planeta. Duas guerras mundiais começaram por lá e arrastaram o resto do mundo para os maiores conflitos militares de todos os tempos. Em Yalta e durante a guerra fria, uma nova Europa nasceu, comprimida por uma diplomacia guerreira que remodelou as fronteiras do continente.

O que aconteceria com as nossas extensas fronteiras andinas e atlânticas, com a Amazônia diante da cupidez internacional e desta onda avassaladora da defesa da ecologia e do meio ambiente nestas terras devolutas dos trópicos?

A esquerda mostra suas tendências pacifistas segundo a ortodoxia dos seus dogmas internacionalistas. A direita alimenta-se dos mesmos impulsos e das razões que designam um novo mundo pacificado. 

A desmilitarização do Brasil seria celebrada como um gesto exemplar de índole pacifista. Um país sem polícia  e sem exércitos, fora a Suíça  com os seus bancos e fundos de crédito, seria uma novidade neste mundo em que vivemos…

Outras regiões e países latino-americanos — Cuba, Venezuela, México, Argentina… — gozariam da franquia das armas, ao dispor de exércitos nacionais ou de forças  “libertadoras”… ou milícias mercenarias, financiadas pelo tráfico, como as que se armaram na Colômbia, em Cuba e na Venezuela.

A força armada, em todo o mundo, funciona como um instrumento poderoso para a defesa contra assédios externos e para a defesa do Estado nos limites da sua circunscrição constitucional, contra a ameaça de todo tipo de insurreição que ponha  em risco a segurança do seu povo e as conquistas civilizacionais dos ideais de liberdade.

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.

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Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.