O capitalismo vige em todos os quadrantes do Planeta, e suas cidades, em maior ou menor grau, são todas cindidas entre bairros ricos e cinturões de pobreza. A diferença entre as cidades dos poucos países ricos e os muitos países pobres reside apenas no grau dessa cisão social.
Isto ocorre, evidentemente, por conta da segregação social própria a uma relação social escravista na qual o capital, administrado pelos capitalistas empresariais ou rentistas (que se subordinam às regras ditatoriais a eles impostas, ainda que em grau de conforto absurdamente melhor em relação aos trabalhadores abstratos), escraviza a todos, ainda que de forma diferenciada perante os súditos da sua cidadania, tal como ocorre na referida cisão espacial citadina.
Registre-se, por questão de reconhecimento público, que os serviços prestados pelo funcionalismo municipal nas áreas da saúde, educação, limpeza pública, planejamento urbano e controle de construções, meio ambiente, controle do trânsito, controle sanitário, conservação da malha viária e pavimentação, incentivo ao turismo, assistência social, entre tantos outros serviços e ações que repercutem diretamente a vida cotidiana de todos, representam o lado bom da função do aparelho estatal municipal, em que pese todas as dificuldades de execuções.
Da mesma forma, a criatividade de ações de melhoria de comportamentos para os munícipes na vida urbana, idealizadas e efetivadas pelos técnicos do quadro de funcionários públicos, somam-se aos elogiáveis esforços do funcionalismo que aliviam a cisão social que penaliza principalmente os bairros da periferia e os que neles moram.
Os governantes dos Municípios administram a escassez, notadamente no atual estágio da depressão econômica mundial e de uma economia altamente interligada globalmente por mecanismos de mercado e quadro de dificuldades financeiras que se observam mundo afora, em maior ou menor grau em cada país, dependendo de sua situação no cenário de disputa hegemônica de blocos politicamente dessemelhantes, mas sob uma mesma lógica econômica global.
Há, também, a dependência municipal à boa vontade política dos vários Ministérios, que apesar de distantes dos Municípios, é quem define a aprovação de projetos técnicos, cujas liberações de verbas não obedecem a critérios legais, de prioridades, mas única e exclusivamente ao lobby político.
Isso, evidentemente, causa uma distorção de interesses dos citadinos e de avaliação de desempenho dos Prefeitos.
Ciro Gomes, em 1989, por exemplo, após a volta da relativa autonomia financeira dos Municípios com a Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, encontrou uma Prefeitura de Fortaleza saneada, com uma avalanche de projetos técnicos que obedeciam a mais alta prioridade para Fortaleza, mas dormiam nas gavetas Ministeriais.
Entretanto, contou com o apoio do governador Tasso (a quem abandonou posteriormente, para agora se reconciliar) e do Presidente Sarney (hoje sem o mesmo poder de antes), e pôde ser considerado o melhor Prefeito do Brasil, credenciando-o a um voo que lhe permitiu, já no ano seguinte, 1990, e bastante jovem, ser eleito Governador do Ceará.
injustamente negativa (a história haverá de considerá-la uma nova Bárbara de Alencar, com imaculado comprometimento revolucionário e emancipacionista).
O preço de não se ajoelhar ao capitalismo é bastante alto, e mais alto ainda se se trouxer uma bandeira de ruptura com o status quo desta forma de relação social infrutífera sob qualquer prognóstico.
Tive a honra de ser candidato à reeleição da Prefeita Maria Luíza e por ela indicado e apoiado, fato que nos custou a expulsão do PT, e hoje me regozijo por não termos conciliado com tudo que é contrário ao pensamento revolucionário, e por estar em condições de denunciar a conciliação espúria que significa traição ao povo e denunciar o verdadeiro conteúdo do significado e função do aparelho de estado nas três instâncias governamentais.
Recentemente fui entrevistado pelo bom comunicólogo de rádio e TV Luiz Regadas, e perguntado sobre o que faria se fosse candidato, respondi-lhe que jamais voltaria a sê-lo, mesmo que tivesse certeza de ser eleito, porque isso é o que me credencia para denunciar a verdadeira anatomia de um governo municipal impotente para a consecução de suas importantes funções (todos moramos nos municípios) e submisso, cujos candidatos tentam vender uma ideia de solução para os graves problemas municipais que são inexequíveis sob a forma político-econômica-administrativa centralizada que temos.