A poesia de Airton Uchoa, A Invenção de uma Avó Desconhecida, me tocou profundamente. A forma como o autor narra a vida de Maria Moura de Souza, mesclando dor, resistência e fé, é poderosa e comovente. Através de suas palavras, senti o peso da história de tantas mulheres invisíveis, mas nunca esquecidas. O impacto de uma poesia bem contada está na sua capacidade de nos fazer vivenciar essas histórias, de nos aproximar da alma dos personagens. E isso, Airton fez de maneira brilhante.
Este poema sobre Maria Moura de Souza ecoa com uma profundidade visceral, revelando a dor e a força de uma mulher invisível para o mundo dos homens, mas sempre acolhida pelos orixás. A história da avó desconhecida é uma ode àquelas que vivem à margem da sociedade, cujas vidas são marcadas pelo abandono, pela luta e por uma força silenciosa, mas imensamente poderosa.
Maria, com seus cadernos de poesia e receitas, transformou a palavra em refúgio e vingança, mostrando que o ato de escrever pode ser uma arma contra a injustiça. Ao mesmo tempo, sua fé nos orixás nos lembra que, embora traída pelos homens, ela nunca foi esquecida pelas forças ancestrais que a sustentavam. O poema expressa a dor do abandono, mas também uma aceitação que vem de algo maior, algo divino.
A imagem de Maria definhando no escuro, cercada pelo murmúrio de outras mulheres em oração, simboliza a união silenciosa e solidária que tantas vezes é apagada das histórias oficiais. O poema nos convida a refletir sobre a herança invisível dessas mulheres, cujos cadernos, corpos e almas trazem as marcas de batalhas íntimas e sociais. Elas são como o mar, sempre recomeçando. No final, Maria encontra sua libertação, abraçada pelos orixás, enquanto os homens — e o mundo — ficam para trás.
Este poema é também um tributo comovente a tantas Marias anônimas, que continuam a existir através das palavras, mesmo quando o resto do mundo lhes vira as costas.