A mudança de gênero infantil, por Alice Tozzi

Recentemente, a mídia apresentou o caso de um menino de nove anos que conseguiu obter na justiça o direto à mudança de gênero. O efeito imediato da decisão judicial envolve a alteração do nome. No entanto, a mudança de sexo só poderá ser realizada após os 18 anos.

A família buscou ajuda no Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Núcleo de Psiquiatria e Psicologia Forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, para que ele recebesse acompanhamento. Após anos de acompanhamento, a equipe sinalizou para o diagnóstico de transtorno de identidade de gênero infantil.

Vale destacar que o diagnóstico oferecido pelo DSM-5 sofreu uma mudança, suprimindo o rótulo de Transtorno de Identidade de Gênero, permanecendo o de Disforia. O objetivo de tal mudança talvez tenha sido retirar a palavra transtorno, que está relacionada a doença, para o termo disforia, relacionado a sofrimento emocional, em função da incoerência de sexo e gênero.

Tal diagnóstico revela como principal sinal um persistente desconforto e sentimento de inadequação em relação ao próprio sexo. Estudos apontam que há uma prevalência do transtorno em meninos, que se expressa pela aversão a brincadeiras e jogos tipicamente tidos como masculinos, além de desconforto por ter o órgão sexual masculino, preferência pelo vestuário feminino, gosto pelos companheiros do mesmo sexo, afirmação insistente de que é do sexo oposto, entre outros.

O tema em questão é alvo de posições que divergem quanto ao tratamento a ser dado. Há profissionais que entendem que deve ser assegurada a liberdade de expressar seus interesses e gostos, favorecendo a tolerância da cultura e aceitação da sociedade. Por outro lado, há profissionais que compreendem que, durante a infância, ainda não está definida a questão da identidade, o que envolve a orientação sexual, e, portanto, deveria ser estimulada a diferenciação de gêneros para que a criança possa se aproximar do gênero ao qual pertence.

Polêmicas à parte, deve-se compreender que a criança, por estar vivenciando um sofrimento emocional intenso, precisa de ajuda para evitar a sua estigmatização e a marginalização da sociedade. E que se possa garantir uma inserção no contexto social que beneficie suas relações interpessoais e a construção de uma estrutura emocional saudável. Dessa forma, estar-se-á proporcionando um contexto tolerante às diferenças individuais.

Alice Tozzi

Psicóloga formada na UNICAP em Recife. Formação em Psicoterapia breve-focal, Neuropsicóloga e Pós Graduada em Psicodiagnóstico. Psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos. Avaliação Neuropsicológica e Psicodiagnóstico. Assessoria Educacional. Contao: [email protected]

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Alice Tozzi

Psicóloga formada na UNICAP em Recife. Formação em Psicoterapia breve-focal, Neuropsicóloga e Pós Graduada em Psicodiagnóstico. Psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos. Avaliação Neuropsicológica e Psicodiagnóstico. Assessoria Educacional. Contao: [email protected]