A libertação das mulheres pelo trabalho assalariado

“Foram necessários sete séculos para que a demanda de união livre evoluísse da Irmandade do Espírito Livre, que declarava uma inocência hendonista, mas não demonstrava inteção alguma de libertar EVA, para a visão bolchevique de independência e emancipação das mulheres. Os quatro elementos dessa visão marxista – união livre, libertação das mulheres pelo trabalho assalariado, socialização do trabalho doméstico e definhamento da família – não se articularam até que as mulheres ingressassem em grande quantidade na força de trabalho assalariado, momento no qual uma divisão antiga de trabalho baseado no gênero começou a ruir. A essa altura desenvolveu-se uma grande disputa entre os defensores das prerrogativas da força de trabalho masculina e as crescentes fileiras de mulheres trabalhadoras. As ideias de Marx, Engels, Bebel e Zetkin foram disputadas nesse campo de batalha.

Historicamente nenhum indivíduo ou grupo – religioso, filosófico ou socialista utópico – foi capaz de montar um desafio efetivo à divisão do trabalho por gênero antes que o capitalismo começasse a minar a família como unidade básica de produção. Os religiosos sectários e os filósofos nem sequer podiam conceber tal desafio, as vozes femininas da Revolução Francesa foram fracas e isoladas, os revolucionários jacobinos desprezavam as causa femininas e os primeiros socialistas utópicos comunalizavam mas não igualavam. Foi somente quando as rápidas mudanças do capitalismo impulsionaram números massivos de mulheres para os locais de trabalho e minaram rapidamente os papéis sociais das mulheres na família que surgiu uma nova visão sobre a libertação das mulheres para responder às necessidades de uma audiência de massas. Porque, apesar das dificuldades criadas pela força de trabalho feminina, foi esse fato, acima de qualquer outro, que criou as condições prévias para a independência das mulheres, para o questionamento dos papéis de gênero e para uma nova concepção de família, em suma, para uma nova base material à libertação das mulheres.”

(Trecho do livro Mulher, Estado e Revolução de Wendy Goldman; BOITEMPO; 2014)

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