A HISTÓRIA DO BRASIL EM FATIAS

CALDEIRÃO
O Estado Novo declara guerra a uma comunidade de crentes e romeiros sob o pretexto de estar em perseguição a revoltosos armados. Eram temíveis revolucionários — comunistas milenaristas —  que ameaçavam a República e as nossas reservas de fé cristã.
A chacina dessas populações, transformadas em hordas de criminosos na sua pobreza secular, contou com a participação do exército e das polícias locais. A dizimação de  milhares de vidas miseráveis pelos sertões do Nordeste  passa a figurar entre os atos de infâmia que marcam a História do Brasil. E que, feitas as contas não foram poucos — e continuam a ser perpetrados sob as nossa vistas cúmplices e emudecidas pelo medo e pela conveniência conivente…

 

A SOBREVIDA DO  CENTRÃO

O “Centrão” não é uma simples coalização político-eleitoral. É uma criação “patriótica” para salvar a alma das oligarquias.  Como força eleitoral é invencível. É, como dizia Francelino Pereira, o “maior partido político do Ocidente”.

 

É, por índole e impulso, multi-ideológico. Nele cabem todas as tendências, de comunistas a fascistas.

 

Ao longo da nossa atribulada vida republicana, o “Centrão” foi sempre majoritário.  Centrão era e sempre foi o PSD. Durante o recesso democrático de 25 anos, a ARENA representou o poder, era o Centrão. O PDS substituiu a ARENA no propósito e função de ser o “Centrão”.

 

Com a sua formação de militar-estadista, forjada nas doutrinas mais recentes, Castelo Branco implantou, por cima de todas as dissensões e das adesões inevitáveis, o bipartidarismo.

Da ARENA fez governo, do PMDB, oposição, Neles lotou as lideranças nomeadas, por livre escolha e aconselhamento de ouvidores civis.

 

Em alguns pontos do Brasil, os refratários digladiaram-se: todos queriam entrar para o partido do governo. Politico brasileiro não tem vocação para contrapor-se ao governo. Oposição dá prejuízo e “é feio perder eleição”. Como dizia uma ilustre estadista brasileira, envergando a faixa presidencial, “faz-se o diabo para ganhar uma eleição”.

 

No Ceará,  não foi fácil convencer algumas lideranças de que não havia vagas para todos — no partido da “situação”. Ensinava o marechal cearense que a democracia é assim mesmo, tem os seus riscos. Alguns políticos, por  falta de sorte ou pela força das circunstâncias, têm que fazer oposição ao governo.

 

Tempos bons aqueles — e saudosos —  quando os vencedores de 1964, revolucionários fardados e os civis saídos dessa aderência público-privada histórica, defendiam, em um governo autoritário, a democracia…

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.