A Filologia Política haveria de ocupar-se do estudo do texto e da sua linguagem. Estudaria a língua mantida pela sua amplitude no tempo e no espaço.
Este complexo desvio da filologia clássica buscaria a adequada explicação e o entendimento dos textos crítico-textuais e sócio-históricos — e da interlocução entre agentes políticos.
Há nestas trocas de mensagens e intenções entre políticos e atores públicos uma simbologia própria de significados definidos. Aos poucos, este acervo de contrapontos de interesses e de rala percepção lógica produziria conceitos e acepções reunidas em um glossário especializado.
Sabe-se, pela experiência que nos foi trazida pelo tempo e pelas circunstâncias que as inspiraram, que o político não fala ou exprime o que pensa. O que este oráculo falante, o político de profissão, portador hábil de cousas improváveis, afirma é o contraditório do que ele pensa.
Na política, segundo acertos imemoriais, o que é omitido não constitui uma forma de “mentira”. A “mentira” é, afinal, para esses usuários das palavras convenientes, a verdade que poderia ter sido cometida…
As palavras, neste círculo compartilhado de falso entendimento, assumem significado autônomo, por obra de uma transformação semântica que faz chegar aos ouvidos do receptor — eleitor comissionado — o que ele, eleitor, gostaria de ouvir.
Este gestual vocal, habilíssimo, ajuda na construção de um glossário semântico de reconhecida utilidade para a expressão, emissão ou omissão do significado do “político”, como diria Julien Freund [L’ Essence du Politique] o conteúdo “político” da motivação da ação partidária e do governo.