Vozes presentes, combativas, calaram, recolheram-se a uma mudez conveniente e preservam o silêncio prudente das pessoas intimidadas pelas injunções do ódio e do medo.
Mergulhadas no “banho-maria” de uma imensa onda semântica, as palavras perderam a força e o significado que lhes deram vida. Os conceitos que exprimiam esvaziaram-se de significado. Ganharam, todavia, formas ambíguas de designação. Criaram realidades antagônicas; os adjetivos preencheram o vazio dos substantivos. Os advérbios preencheram, “ad mensura”, a lacuna dos gerúndios…
O gerenciamento do uso das palavras atende, hoje, ao paradigma dos limites autoimpostos por quem pensa mas não externa as suas ideias. O perigo que as palavras guardam sobrevive no entendimento do “receptor”, resulta do valor consignado nos seus padrões ideológicos, no DNA das suas inclinações adquiridas.
A escrita, na percepção de Barthes, é uma forma de significação de ideias, conceitos ou sentimentos. O represamento dessa “fonte” de expressão e da opinião, a sua “lacração”, por iniciativa espontânea ou obrigação imposta, legitima, por omissão, o arbítrio do poder.
Não obstante, a mudez cidadã pode significar, no silêncio da sua abstenção, uma manifestação legitima de discordância.