Ouvi atentamente as considerações constantes de um vídeo que impressiona pela dureza das revelações que traz sobre o desmonte da educação brasileira, em lenta e metódica preparação.
As batalhas principais e as mais aguerridas, realizadas em torno da reforma educacional foram perdidas para o CONAE. Mas não foi no combate enriquecedor da controvérsia, deu-se pelos desvios da dissimulação ideológica e de táticas de guerrilha, atrás das quais esconderam-se os seus principais articuladores.
Estrategicamente, as mudanças apresentadas ao País foram “legitimadas”, graças ao envolvimento dos “coletivos”, convocados em nível municipal e estadual. Não sobrou muito espaço para a sociedade tentar evitar o pior.
A escola pública foi tomada ideologicamente pelos sindicatos docentes. A escola privada, carente de ideias inovadoras,ainda que dominada por vastos interesses, sob o controle de empresários com forte poder de influência, está sob controle de minorias ativistas do corpo docente.
O Congresso Nacional nada fará: os seus integrantes estão motivados pela própria sorte: pela reeleição para mais um mandato ou para escapar dos processos que correm conveniente na justiça. Ou pelos mesmos motivos e ponderáveis razões. A velocidade processual destas causas avançam na medida certa das convergências de proposições e do consenso que possam firmar-se sobre a natureza das coisas e da ambição dos homens…
A mídia, contaminada pelos “subsídios” do governo, não pode perder essa valiosa receita da qual hoje depende para sobreviver, sem leitores e com anunciantes precários…
Isto posto, o que fazer para darmos a impressão de que estávamos a acompanhar estes trágicos desdobramento, porém caláramos pelo excesso do quê fazer?
Temos um sistema educacional, em todos os níveis e graus, dos mais ineptos e ineficientes de todo o mundo civilizado. Como haveríamos de resistir a esta onda avassaladora de ativistas e ideólogos a serviço de uma causa praticamente vitoriosa, pela mesma e triunfante estratégia gramscista ?
A América Latina é fruto, social e politicamente, pelo que não chegou a realizar-se. Destes jogos de poder, a cultura, mas não as trincheiras dos campos de batalha, contam de verdade para as batalhas finais e definitivas.
Travamos, a rigor, uma guerra ideológica e semântica a um só e único tempo.
Como vejo a questão emergencial que agora se põe?
Trabalhei em educação por mais de 40 anos, no setor público e no privado. De funcionário e professor universitário a chefe de departamento em uma grande universidade, diretor de faculdade, pró-reitor, reitor, secretário nacional de educação básica e superior, secretário de educação do Ceará… Colhi uma experiência que, hoje, me serve de desalento e me dá muita pena de ver a ideia da escola assim tão maltratada. Carregado, por cima, de paupérrimas esperanças por ver refundidas e comprometidas as tendências que condenam perversamente a educação brasileira.
Outrora entregue aos políticos, a educação nas suas vertentes público-privadas está, hoje, sob o domínio de igrejinhas ideológicas que nunca souberam o que fazer do pouco aprendido por renúncia espontânea, na escola que pretendem dissolver.
Se quisermos abrir uma janela para nos fazermos ouvir, em discurso de protesto, de catequese fora de tempo ou de réquiem por valorizas causas perdidas, teremos que enfocar a questão da educação brasileira — de frente. Não tão somente como cristãos, mártires de uma causa perdida, porém com argumentos enérgicos:
Primo: identificar os pontos essenciais do documento e das decisões adotadas até agora, com a descrição objetiva de todos os seus aspectos.
Secundo: analisar o rito seguido pelo processo de “consulta” à sociedade e demonstrar com recursos lógicos como lhe falta legitimidade para promover mudanças essenciais na educação e na família brasileiras.
Tertio: fixar um plano de abordagem da questão e de como levá-lo ao conhecimento público.
Quarto: definir com clareza a estratégia de cerco dos parlamentares, denunciando-os ao País pela sua omissão criminosa e apresentar os seus nomes e os votos que pretendem dissimular.
A mídia já tem partido, a escola pública está dominada, as associações de mantenedores, em consonância com o MEC, entraram em uma cúmplice associação de favores e tolerância.
O favorecimento dos governos populares dispensado à escola privada e às universidades mantidas por empresas familiares, levou a termo o crescimento geométrico da população escolar privada e dos empreendimentos realizados por grandes grupos empresariais nos últimos tempos.
Por fim: passou o tempo dos desabafos, estávamos todos ausentes, enquanto a militância provia de ideias e táticas guerreiras e ideológicas a escola, os professores e os alunos. Menos os pais, mantidos, por conveniência ou estratégia, à distância deste processo revolucionário de desconstrução da sociedade burguesa e neoliberal na qual ainda vivemos.
That’s all the folks…