A direita contra o Jair

Um espectro ronda o Palácio do Planalto.O espectro da direita contra o Jair. Vem pra rua e MBL se afirmam como oposição ao governo federal e engrossam o coro do impedimento;Novo e PSDB também declararam publicamente o desejo de tirar Jair Bolsonaro da presidência, apesar de que na Câmara estes dois com frequência votam com o governo.Neste texto trataremos especificamente do MBL e das razões para o movimento ter rompido ruidosamente com o bolsonarismo.

O Movimento Brasil Livre(MBL) surgiu no fim de 2014.Naquele momento, seus integrantes, decepcionados com a derrota eleitoral de Aécio Neves, apostaram com força na divulgação do liberalismo econômico no Brasil, com a intenção de debater publicamente as ideia de determinados autores e formar um movimento político que de alguma forma pudesse mudar a política nacional, tornando-a ligada a uma conglomerado de pensamentos rotulados como ”liberal na economia” ou seja, implementação de privatizações de empresas estatais, reformas com intenção de diminuir a maquina estatal, menos direitos trabalhistas, flexibilização do mercado de trabalho, em suma;”Estado mínimo”.

2015 e 2016 foram dois anos importantes para o MBL.Nesse ínterim, seus integrantes conseguiram dominar o debate econômico nas redes sociais e no Youtube, realizaram machas e manifestações em prol do impedimento de Dilma Rousseff, criaram uma marca própria e lançaram nas eleições municipais de 2016 alguns nomes em partidos variados que defendiam a pauta traçada pelo grupo.Entretanto, o posicionamento ideológico do movimento já tinha se modificado;É onde entra Jair Bolsonaro.

Kim Kataguiri se diz influenciado politicamente por Barão de Montesquieu.O republicanismo e o ”liberalismo clássico” é de fato uma das bandeira originais do movimento, porém, na prática o grupo se rende ao conservadorismo chulo e autoritário que impera por terras brasileiras. Em 2016 o movimento se uniu com as bancadas evangélicas e ruralistas para defender, dentre outras reinvindicações, a redução da maioridade penal, uma pauta tradicionalmente conservadora e a famigerada ”Escola sem partido”,além de ganhar as manchetes nacionais tempos depois ao tumultuar a peça artistica Queermuseu do Santander Cultural na cidade de Porto Alegre,que acabou encerrando suas atividades naquele momento.Estranhos esses liberais que optam pela repressão estatal na resolução da problemática da violêmcia urbana, almejam leis que regulam a fala dos professores em sala de aula e reprimem manisfestações artísticas!

Desde então o grupo tem se definido como ”liberal-conservador” o que em partes explica a aproximação da sigla com o então candidato pelo PSL Jair Bolsonaro. Como destaca o jornalista João Filho;”Poucos anos atrás, o MBL se projetou nacionalmente defendendo quase todas as principais pautas do bolsonarismo.” Como explicou o deputado Arthur do Val(Mamãe Falei) no terceiro Congresso nacional do MBL em 2017;

“Concordamos muito com o Bolsonaro em diversas coisas: revogação do estatuto do desarmamento, redução da maioridade penal… Concordamos em diversas pautas. Inclusive quando ele falou mal da CLT, eu quase soltei fogos na minha casa. Quando ele fala em criar leis antiterroristas que atinjam o MST, eu acho que é um ato de extrema coragem. Eu acho uma palhaçada quando começam a chamá-lo de racista e homofóbico.”[1]

Depois da vitória eleitoral em 2018; ”Após a eleição, as lideranças do MBL viajaram em peso até Brasília para comemorar a vitória ao lado do presidente. Aos risos, o deputado Kim Kataguiri gravou um vídeo em que pergunta para Bolsonaro em tom de deboche: “Existe um boato de que você é racista, que você é homofóbico, que você é intolerante…” Bolsonaro gargalhou com piadinha do seu então aliado. Kataguiri tirava um sarro da cara de quem acusava o presidente de ser racista e homofóbico, mesmo sabendo que o próprio já havia pesado pretos quilombolas em arrobas e admitido publicamente ser “homofóbico com muito orgulho”. Não há dúvidas de que o MBL sabia muito bem com quem estava se associando.”[2]

O programa político do MBL, que pode ser descrito como ” um amálgama ultraliberal-conservador”[3] analisado por Camila Rocha em sua tese de doutorado, não é muito diferente do proposto por Jair Bolsonaro na eleição de 2018.O problema é que o capitão se vestiu de ”liberal-conservador” apenas para chegar ao poder e buscar seus objetivos pessoais. Quando lá se preocupou apenas em blindar sua família da justiça e fazer agrados para a sua base eleitoral fanatizada. Para o Jair importa mais gritar contra a rede Globo do que tocar uma reforma da previdência.Nesse caso, os liberais que votaram 17 foram traídos e enganados, não sem muitos avisos de que isso iria acontecer.A ruptura do MBL com o bolsonarismo não se dá por razões de discordâncias programáticas fundamentais, ocorre em razão do grupo ter percebido que o governo Bolsonaro não pode oferecer nada de positivo ao país, já que o capitão só pensa nos seus e está ”cagando” para governar, diante disso o MBL abandonou um barco furado com o intuito de chegar em terra firme e se realinhar no xadrez político, para que possa novamente vociferar dia e noite o seu liberalismo autoritário sem se preocupar em ter de prestar continência ao ”mito” endossado com alegria anos atrás.

Referências

[1];[2]João Filho, MBL jura que abandonou o bolsonarismo, mas o bolsonarismo não abandonou o MBL. The Intercept Brasil https://theintercept.com/2021/06/13/mbl-bolsonarismo-patriotas-extrema-direita/

[3] ROCHA,Camila, ”Menos Marx, mais Mises” uma gêneses da nova direita brasileira (2006-2018) Tese(Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,Departamento de Ciência Política,São Paulo,2018.

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.