São Paulo repercute a evidência que descobre a cara de um eleitorado indefinido e indiferente, em relação às questões essenciais de meios e fins do processo eleitoral.
Situações eleitorais e políticas como as que se mostram, nestas eleições, na cidade de São Paulo, expõem como se opera a “construção” de um candidato, demonstram as suas relações no âmbito dos partidos e do quanto ele pode ser capaz. Só não deixa à mostra a ideia que ele faz da representação política por ele exercida mediante mandato que lhe foi outorgado.
O quadro torna-se mais grave, na medida que ao eleitor escapa, por igual, a compreensão sobre os direitos que lhe são reconhecidos para escolher e eleger o seu representante, na forma da lei, dos costumes e da ética.
Por outro lado, as leis que emprestam às eleições os regramentos básicos e fixam legalmente as competências do eleito para o cumprimento do mandato e da representação não esgotam a totalidade do processo eleitoral.
O essencial do rito democrático da escolha de governantes e dos agentes públicos elegíveis pela expressão da vontade popular não se extingue com a apuração dos votos, nem, muito menos, com a formalidade celebrada nas cabines das seções eleitorais.
O processo da escolha dos candidatos, na intimidade dos partidos, sob controle estrito da sua liderança e dos “cartolas” que manejam e gerenciam o “capital” da legenda, surge como desvio padrão — variação de um conjunto de elementos determinantes — dos procedimentos democráticos fundamentais.
A liberdade de escolha sofre, nesta fase inicial da “criação” das candidaturas, a salvo da participação dos filiados ao partido, o primeiro golpe que se completará com as alianças e coalizões partidárias sob a influência de grupos de interesses e os “lobbies” das oligarquias e dos ponderáveis poderes do Estado.
Os “colégios eleitorais” praça de compra e venda de votos, a retalho ou por atacado, a contado, em espécie ou em favores e contrapartida de lealdades cúmplices, fecham esse círculo poderoso de vontades particulares.
Sem ter alguns livros de referência à mão e o alvitre de autores celebrados, valho-me, nesta conversa inócua sobre circunstâncias e propósitos despropositados, da memória de leituras antigas e da visão que trouxe comigo de antigas narrativas guardadas da vivência dos anciões da família.
Para refrescar a memória:
Vitor Nunes Leal (“Coronelismo, enxada e voto”), Raymundo Faoro (“Os donos do poder”), Gilberto Freyre (“ Nordeste”), Djacir Menezes (“O Outro Nordeste), José Lins do Rego (“Fogo Morto”), Rachel de Queiroz (“O Quinze”, “Memorial de Maria Moura” e “Lampião”), Nertan Macedo (“Rosário, rifle e punhal” e “O clã dos Inhamuns”) e Joaryvar Macedo (“Império do Bacamarte”), João Macedo Coelho Filho (“Bala de Algodão”).