Decidir livremente a respeito dos diversos aspectos da vida é uma conquista diária e passa por diversos es†ágios, analisa a psicóloga clínica Alice Tozzi.
A AUTONOMIA INFANTIL, por Alice Tozzi
Compreendemos a autonomia como sendo a liberdade de tomar suas próprias decisões, de acordo com as informações que o contexto oferece. Destaca-se que a capacidade de decidir livremente a respeito dos diversos aspectos da vida consiste numa conquista diária, passando por vários estágios até se chegar à tão sonhada autonomia.
Tais estágios envolvem diversas tarefas, que tem por finalidade preparar física e emocionalmente a criança para a vida adulta e, desse modo, favorecer a aquisição gradual da autonomia.
Essa linha de pensamento nos sugere que, para pais e filhos, esse momento seria de uma grande realização, dado que significaria, em tese, um crescimento para ambos.
No entanto, não é um processo tão fácil quando se imagina. Pensando nos filhos, os pais comumente se indagam: ele pode tomar banho sozinho? Pode fazer a tarefa sem auxílio? Pode se vestir? Pode tomar decisões? Pode decidir o rumo da sua própria vida? Muitos desses questionamentos e hesitações dos pais, e, naturalmente, suas conseqüências práticas, no mais das vezes, terminam por travar o curso natural de conquista da autonomia por parte da criança.
Para que ela tenha autonomia, é preciso que os pais autorizem esse processo, acreditando na capacidade de seu filho fazer suas próprias escolhas. Mas, claro, não deixando de oferecer a segurança e o suporte necessários em cada momento.
Sabemos que o contexto em que vivemos modernamente, permeado de tantas adversidades, tem concorrido para desenvolver nos pais o sentimento, às vezes excessivo, de proteção. Proteção essa que sugere a evitação de algo ruim, como se os pais buscassem reter o filho em um mundo perfeito e idealizado. É nesse cenário que, pensando em, supostamente, proteger os filhos, os pais terminam impedindo que o sentimento de ausência permita o surgimento da iniciativa e da capacidade de lutar pelo que se deseja.
Nesse caso, tais atitudes terminam minando a autoestima e o sentimento de segurança e responsabilidades. O resultado é a produção de adultos inseguros e dependentes.
Os pais precisam refletir sobre em que medida estão facilitando (ou prejudicando) o desenvolvimento da capacidade de julgar e agir com responsabilidade dos seus filhos. De fato, é um trabalho árduo e exige muita paciência. Acima de tudo, exigirá também desapego quanto a um possível, e comum, sentimento de posse, a fim de permitir que as crianças se fortaleçam emocionalmente para conduzir a própria vida, podendo ser protagonistas de sua história e evitando serem meros figurantes, apoiados em decisões alheias.
Sabemos que a vida é uma jornada sem roteiro certo, marcada por sabores e dissabores. Portanto, é preciso que saibamos construir o que somos e o que desejamos ser. Afinal, queremos ser aquilo que desejamos ou aquilo que o outro deseja para a nossa vida?