2025 E A “PERFECT STORM”

“Estou confiante em prever o colapso do capitalismo e do início da história. Algo vai mal na máquina que converte dinheiro em dinheiro; o sistema bancário entrará em colapso total e vamos ter que fazer permutas para permanecermos vivos.”

Margaret Drabble

 

Os juros mundiais sobem junto com a inflação. A razão desse fenômeno conjugado denuncia uma infecção no organismo econômico mundial: falta sangue na estrutura econômico-financeira mundial como consequência da dessubstancialização do valor.  

A abstração valor, dado histórico que caminha para o fim (ciclo de nascimento, vida e morte), e não ontológico, é uma criação da mente humana para comandar a vida social real de um modo subtrativo da própria riqueza abstrata (que é valor) de quem a produz (o trabalhador abstrato) e consequente apropriação cumulativa de capital e da propriedade da riqueza material transformada em abstrata, a mercadoria, precisa de velocidade de reprodução aumentada constantemente para existir, tal como uma bicicleta que sem velocidade cai.  

Como não se reproduz valor “válido” (advindo dos setores primário e secundário da economia) na quantidade necessária para a lubrificação do fluxo monetário mundial, os Bancos Centrais são obrigados a imprimir moeda sem lastro ou apenas lançá-las eletronicamente na contabilidade bancária para suprir a demanda deficitária (de moeda saudável e saldável).  

Paradoxalmente, os Bancos Centrais precisam disso para manter o indispensável fluxo monetário da economia, medida que provoca efeitos colaterais danosos (se correr o bicho pega; se ficar o bicho come).

Essa é a causa primária da inflação e da alta dos juros para contê-la, o que provoca uma “bola de neve” de causa e efeito como remédios amargos por conta do aumento da dívida pública que influi negativamente na lei da oferta e da procura no mercado, quando a produção de mercadorias é menor do que o montante de moeda sem lastro em circulação na economia.

É importante se considerar que com a alta tecnologia aplicada à produção de mercadorias e serviços (também mercadorias) há uma redução substancial e gradativa do valor destas, com redução de volume de extração de mais-valia (que é o sangue saudável do capital, mas cruelmente extraído dos trabalhadores) para a acumulação do capital, do lucro e, consequentemente, da massa global de valor (ainda que o empresário que substitui trabalho abstrato pela máquina ganhe a concorrência de mercado e até obtenha mais lucros individualmente).  

A tecnologia aplicada à produção de mercadorias é o último suspiro (em tempo histórico) do capitalismo moribundo.

Dessa forma, o cenário para 2025 no Brasil e no mundo é sombrio.  

No Brasil a Selic, que é a taxa de juros fixada pelo Banco Central teve subida de 0,25% na última reunião do COPOM – Conselho de Política Monetária – com perspectiva de alta.  

Isso se deve à tendencia de inflação brasileira prefixada em 4,71%, acima da meta, para o ano de 2024, puxada pelo desajuste das contas públicas (maior gasto do que a arrecadação de impostos) e, agora, pela alta do dólar que subiu do patamar de R$ 6,08 por US 1,00, que impacta diretamente no custo do petróleo e de importados de largo consumo popular (como o trigo, por exemplo).

A Inflação alta corresponde ao maior confisco de salário do trabalhador abstrato justamente porque atua precocemente sobre o preço dos alimentos, que na baixa renda tem alto índice dentre os gastos familiares.

Além do mais, recentemente o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, o destrumpelhado, vem anunciando retaliações aos produtos brasileiros por conta de sua participação ativa no grupo dos BRIC’s, que vem questionando a hegemonia do dólar como moeda internacional, e denunciando, corretamente, a insubsistência dessa moeda fiduciária absolutamente destituída de lastro que a justifique.  

O Brasil, em que pese a sua importância em produção de riqueza material para o mundo (ferro e alimentos), não tem presença importante na formação do PIB mundial, justamente porque ainda somos produtores e exportadores de commodities sem valor agregado.  

Além disso, somos forçados pelo capitalismo mundial e sistema bancário ao pagamento de juros sobre a nossa dívida crescente (em torno de 80% do PIB), que consome grande parte das nossas receitas fiscais (cerca de 43% do tudo que gastamos, incluindo juros e amortizações), que representa um sacrifício intolerável para o povo brasileiro.

Os indicadores de queda no desemprego (baixou para 6.2% da mão de obra economicamente ativa, que ainda é alta, com 6 a 7 milhões de desempregados) e previsão do Ministério da Fazenda de crescimento do PIB para 3,2% para 2024, representam aspectos positivos em meio aos prognósticos sombrios de 2025.  

Mesmo que se considere a queda do nível de pobreza no Brasil em 2023, em torno de 8,7 milhões de pessoas, recuando de 67,7 milhões para 59,0 milhões de pessoas, e que o IBGE considera que se inserem nessa estatística quem ganha até R$ 665,00 por mês, constatamos que somos um país de empobrecidos crônicos. Esse é o retrato da resultante do capitalismo brasileiro.  

O elogiável esforço de Lula em minimizar a miséria esbarra nos limites da autofagia capitalista e exigências do mercado.  

Na economia mundial observamos a tensão de recrudescimento das guerras da Rússia com a Ucrânia com ameaças nucleares; bombardeio de Israel em Gaza e no Líbano; volta do aquecimento da guerra na Síria; tensão e ataques entre irã e Israel; migrações populacionais continentais; ameaça venezuelana de invasão da Guiana para retomada da região de Esequibo; guerra civil no Iêmen; proliferam conflitos na Ásia; a África é um barril de pólvora; e por aí vai…

Observadores internacionais (da ONU, da BBC, de Washington e não só) afirmam que cresceram vertiginosamente os conflitos armados mundo afora, fatos que podemos constatar diariamente pelo noticiário internacional. Por conta de tantos conflitos mundiais no interior dos países e entre países o Papa Francisco assevera que “estamos na terceira guerra mundial fragmentada”.

A nós cabe perscrutar sobre as causas diretas e indiretas disso, porque a guerra é a consequência direta da crise mundial do capitalismo e não a sua causa, ainda que haja uma retroalimentação de causa e efeito entre ambas.  

Entendemos que a questão que se coloca não é de reforço armamentista militar ou de fortalecimento das forças armadas como forma de controle das

turbulências sociais, mas justamente o contrário: o desarme das causas que incitam o armamentismo. Os bons exemplos de condutas sociais fora da lógica do capital devem arrastar a humanidade para novos parâmetros e paradigmas comportamentais.  

A crise da terceira revolução industrial da microeletrônica, provoca o desejo de obtenção de hegemonia econômica pelos beligerantes (o capital é genocida; lembram-se da primeira e segunda guerras mundiais do pós-crise da segunda revolução industrial fordista?), e não de superação da própria crise, que é impossível de ocorrer sob seus pressupostos exauridos.  

O bloco dos BRIC’s quer combater a intolerável hegemonia capitalista ocidental com os mesmos mecanismos capitalistas decadentes para assumir, hoje, o posto do opressor de ontem. A superação da crise do capitalismo passa pela superação do próprio capitalismo, e não pela substituição de patrões. É importante discutirmos se há vida fora do capitalismo???!!

Vejamos alguns exemplos:

– A China tem um PIB de USD 17,8 trilhões, e uma dívida pública e privada de cerca de 300% desse PIB sobre a qual paga juros de 3,1% aa. O PIB chinês para 2024 está com previsão de crescimento de 4,1% a 4,6% (em linha decrescente ano a ano, como era de se esperar em face do limite de expansão na economia mundial; o consumo humano é limitado e estanque). Isso significa que toda a produção de riqueza chinesa é insuficiente e inferior ao pagamento dos juros a serem pagos ao sistema financeiro mundial;

– O FMI tem uma previsão de PIB mundial otimista (que costuma ser contrariado  pelos fatos) de 3,2% para 2025, que ainda assim é insuficiente para debelar o crescimento da dívida pública orçada hoje (pelo mesmo FMI) em US$ 100 trilhões;

– cresce mundialmente a taxa de desemprego, como por exemplo, a Índia com seus cerca de 550 milhões de desempregados e outros tantos sub-empregados, e a China com seus 5,2% de taxa de desemprego que corresponde a cerca de 350 milhões da mão de obra economicamente ativa. Ambos os países lideram o ranking nominal de desempregados no mundo. Mas não só, porque a África do Sul, Espanha, Turquia, Itália, França, Argentina, Alemanha, e Indonésia, entre outros, padecem dos males do desemprego estrutural que torna o capitalismo inviável como forma de relação social;

– o sistema bancário mundial e seus dealers (corretores oficiais de venda de títulos públicos) já servem apenas para intermediar as aplicações de rentistas para o custeio da dívida pública cobrando taxas de serviços (spreads) altamente rentáveis e seguras (só até a hora do dilúvio), porque empréstimos

para a atividade econômica de produção de mercadorias é empreendimento de alto risco;

– observam-se  turbulências políticas no chamado primeiro mundo (greve geral na Itália da ultradireitista Giorgia Meloni, queda do Primeiro Ministro na França, ameaça de impeachment na Coréia do Sul, etc.);      

– são cada vez mais intensos os fenômenos climáticos mundiais, como por exemplo, os incêndios florestais na Amazônia e no Centro-Oeste brasileiro no período do verão amazônico, que inverteu a condição de pulmão do mundo pela retenção de gás carbônico, para região poluente por conta das fumaças expelidas pelos incêndios já corriqueiros e a cada vez mais abrangentes como ocorre na Califórnia, Estados Unidos;

– Enchentes (calcula-se que cerca de 20 milhões de pessoas são atingidas pelas enchentes neste ano de 2024). No Rio Grande do Sul do Brasil; na Espanha, Alemanha, Indonésia, Afeganistão, parte da África (Quênia, Burundi, Tanzânia, Somália) registraram-se enchentes severas que se sequenciaram por secas severas na África Oriental;

– Aumento da temperatura do Planeta com aquecimento das águas oceânicas, derretimento do gelo das calotas polares  com mais de 1,1 mil erupções vulcânicas na Groenlândia;  

– e por aí vai…

Para novembro de 2025 está programada a COP30, ou seja, 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Dela certamente sairão resoluções para que se combatam as emissões do gás carbônico na natureza (será que teremos a anuência dos maiores emissores, Estados Unidos de Trump e China “comunista” de Xi Jinping?), que serão mais uma vez descumpridas pela lógica do capital que tudo sacrifica em nome da sua continuidade.  

2025 está mais para uma “perfect storm” do que para a superação necessária e urgente das relações sociais capitalistas.

Há vida fora do capitalismo? Esse deveria ser o tema da COP30, e não como combater as adversidades do clima sem mexer na sua causa: o capitalismo e suas categorias formatadoras (valor, trabalho abstrato, dinheiro, mercadorias, mercado, propriedade, Estado, política e seus partidos…).  

Mas seria uma ingenuidade se querer que num fórum capitalista se discutam a sua superação. A solução não passa pelo apelo às Nações (des)Unidas pelo capital, mas fora delas, e com suas negações como tal.  

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