O cenário desenhado pelas manifestações de 15 de março e 12 de abril de 2015, desproporcionalmente infladas pelos paulistas perfilados na mítica avenida Paulista em relação ao número de manifestantes noutros Estados da Federação, fez-me lembrar imediatamente do último levante armado contra o governo federal na era republicana. Tal fato ficou conhecido pela historiografia oficial como Revolução Constitucionalista de 1932.
O evento de 1932 foi uma reação ao movimento de 1930 que deu fim ao período da República Velha. Golpe liderado por políticos ligados aos Estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, liderados por Getúlio Vargas. Getúlio que iria ficar no poder por 15 anos (1930-1945) e voltaria em 1950 até seu suicídio em agosto de 1954.
Se fizermos uma análise política no formato da cartilha que rege à imprensa esportiva, poderemos destacar inúmeros fatos ou coincidências históricas para o momento atual, como se fossem tabus ou estatísticas como são cantadas em cada jogo de futebol por seus narradores ou comentaristas.
Após o retorno às eleições diretas para presidente em 1989, foram eleitos: Fernando Collor (Alagoas) – Itamar Franco (Minas Gerais); Fernando Henrique Cardoso (São Paulo); Lula (São Paulo) e Dilma Rousseff (Rio Grande do Sul). FHC, Lula e Dilma, nasceram no Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais respectivamente, no entanto, os dois primeiros fizeram suas carreiras políticas por São Paulo e a última pelo Estado do Rio Grande do Sul.
Excetuando-se Collor, que não concluiu o mandato, por se tratar de um episódio de excentricidade política, ou seja, visto como um mal menor em detrimento de Lula para a elite política e econômica do país naquele momento, caiu por falta de apoio no congresso e da mídia, os outros presidentes provinham politicamente dos colégios eleitorais da Região Sudeste (MG e SP) até a presidenta Dilma Rousseff.
Nesse sentido, a leitura que faço dos protestos de 2015, diferentes na forma, motivação e influências dos protestos de 2013, é a tentativa de reedição da Revolução Constitucionalista de 1932.
Como diria Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Mesmo que o ex-presidente Lula tenha sido forjado politicamente no movimento sindical do ABC paulista e chegado ao cargo máximo do executivo nacional, não deixou de ser um “nordestino” nascido em Pernambuco.
Além disso, mesmo tendo uma política econômica austera, tendo iniciado seu governo com um ministro da fazenda e presidente do Banco Central aprovados pelo mercado financeiro, direcionou sua política social e internacional para a inclusão de milhões de pessoas que viviam na pobreza ou na miséria (extrema pobreza) e para a priorização de um alinhamento SUL-SUL, externamente.
Tais movimentos políticos continuados pela sucessora Dilma Rousseff agravou o descontentamento das classes dominantes do país, principalmente do Sudeste brasileiro.
Dessa forma, em 2018 (data da próxima eleição presidencial), marcará o período de 16 anos em que as elites políticas, econômicas e midiáticas de São Paulo e de outros estados do Sudeste e Sul do país, não conseguem “pautar” o governo federal de forma efetiva e também não conseguem “decidir” o pleito eleitoral, que vem sendo decidido pela região Nordeste.
Portanto, vejo em 2015 um movimento muito parecido com a “revolução de 1932” dos paulistas contra o governo federal, por discordar de quem deveria ser o Presidente da República e por efetivamente “acusarem” o golpe de não estarem mais conseguindo “pautar” a agenda política (projetos estruturantes) do governo federal, como sempre se viu na política tradicional brasileira desde sempre. Com exceção dos movimentos que estamos vendo no Congresso Nacional orquestrados pelo PMDB em 2015.
Tais fatos ficaram mais evidentes pelo apoio midiático dos grandes veículos de imprensa que saíram da falsa “neutralidade” para um posicionamento claro e inequívoco regional contra o governo federal.