A enorme velocidade com que sobem os juros que o governo paga aos rentistas só tem comparação, no Brasil, com a lentidão com que eles caem. A taxa Selic, que remunera os títulos da dívida pública, gerida pelo Banco Central, está em inexplicáveis e inaceitáveis 14,25%, o que garante ao aplicadores um rendimento real de 8% ao ano.
Inexplicáveis porque até as pedras sabem que a inflação brasileira não é de demanda, que a taxa alta da Selic não tem influência direta na relação do volume de empréstimos do sistema bancário com o PIB e que ela pouco ou nada influencia no custo dos empréstimos a pessoas e empresas. Inaceitáveis porque o Tesouro simplesmente não precisa nem deve pagar tão caro, é inútil e desnecessário.
Mas, o Banco Central acaba de manter a taxa de 14,25% ao ano. Apesar de esse patamar só ter sido atingido quando a inflação anual apontava tendência de crescimento, com a taxa em doze meses postada em 10,6%. Agora, a inflação em doze meses já está abaixo de nove por cento e a previsão do “mercado” é de mais ou menos 7 por cento para este ano.
É irrelevante que o vice no exercício da presidência tenha dito assim que assumiu que os juros cairiam rapidamente. É irrelevante que seu ministro da Casa Civil tenha dito no dia da definição dos juros que o dito presidente interino veria a queda dos juros “com bons olhos”. É irrelevante que o país esteja em forte crise fiscal e que qualquer corte de um por cento nessa taxa representa economia de dezenas de bilhões de reais. É irrelevante ou ironia?
Na América do Norte, na Europa e no Japão, os juros estão próximos a zero, e em alguns casos até negativos (isso mesmo, o aplicador paga ao governo para este guardar seu dinheiro). É que a preocupação desses países é que aconteça uma deflação. Sempre que há queda de PIB, no mundo inteiro os preços caem, os juros também. E eles querem, com juros baixos, estimular a poupança e os empresários a ir buscar lucro na produção que gera emprego e tributos.
O nosso Banco Central faz o contrário do mundo sério e desenvolvido, parece portador de uma ciência que o mundo inteiro desconhece. Será que o mundo inteiro está errado e só “çábios” do nosso “mercado” estão certos?