Resenha – Esquerda & direita, por Murray Rothbard

BONS MOMENTOS

— A análise conservadora faz jus exatamente a esse pessimismo, tanto com o futuro próximo quanto com o distante; pois o conservadorismo é apenas um sobrevivente em estado agonizante do antigo regime da era pré-industrial, e por isso, de fato, não tem futuro. Em sua forma americana atual, a recente renovação conservadora oferece os últimos espasmos de um país irreversivelmente moribundo, de uma América fundamentalista, rural, provinciana, anglo-saxônica e branca.

— Muitos libertários erram ao ligar seus planos para a liberdade com aqueles do movimento conservador, aparentemente próximos e mais fortes; esta ligação esclarece por que do pessimismo dos libertários modernos com relação ao futuro. Mas este texto defenderá que, enquanto as perspectivas de curto prazo para a liberdade nos Estados Unidos e no exterior parecem obscuras, a postura correta do libertário deve ser de um otimismo inabalável com o futuro.

— Eis o New Deal. Depois de uma leve agitação esquerdista na segunda metade dos anos trinta, o governo Roosevelt reforçou sua aliança com os grandes empresários com uma economia baseada na defesa nacional e na indústria bélica, que começou nos anos 40. Esta economia e esta política vêm imperando no país desde então, materializadas numa economia de guerra, no capitalismo monopolista de Estado pleno e no neo-mercantilismo, o complexo industrial-militar dos dias de hoje.

— Edward N. Hurley, presidente da Comissão Federal de Comércio e antigo presidente da Associação das Indústrias de Illinois, anunciou satisfeito, no fim de 1915, que a Comissão Federal do Comércio foi criada para “fazer pelo mercado em geral” o que a Comissão Interestadual do Comércio (ICC) vinha se empenhando em fazer pelas ferrovias e pelo transporte marítimo, o que o Federal Reserve estava fazendo pelos banqueiros do país, e o que o Departamento de Agricultura estava realizando pelos fazendeiros. Como aconteceria de maneira mais dramática no fascismo europeu, cada grupo de interesse econômico estava sendo organizado em cartéis, monopolizado e encaixado em um nicho privilegiado dentro de uma estrutura sócio-econômica hierarquizada.

— Em sua obra prima, denunciando veementemente a concorrência de mercado e clamando por “cooperação” industrial, controlada e protegida pelo governo, Eddy (Arthur Jerome Eddy, um importante advogado de corporações que se especializou em formar associações comerciais e ajudou a dar vida à Comissão Federal do Comércio do governo norte-americano) protestava que “concorrência é Guerra, e a Guerra é o inferno”.

— Apesar das recaídas reacionárias para o estatismo, o mundo moderno se mantém num nível muito superior ao que foi no passado. Se considerarmos que a velha ordem do despotismo, do feudalismo, da teocracia e do militarismo dominou, de uma maneira ou outra, todas as civilizações humanas até o ocidente do século XVIII, devemos ter ainda mais otimismo com relação ao homem e ao que ele pode fazer.

CURTAS

— A velha ordem pôde persistir em seu sistema escravista por séculos exatamente porque ela não criava expectativas ou dava esperanças às massas oprimidas.

— A derrocada da velha ordem só foi possível pela ação da massa libertária que eclodiu em gloriosas revoluções no ocidente, tais como a americana e a francesa, dando origem às glórias da revolução industrial e aos avanços da liberdade, da mobilidade social e do aumento dos padrões de vida, que ainda mantemos hoje.

— Quando o assunto é vida política e ideológica, sempre foi mais comum aos indivíduos voltarem suas atenções ao principal inimigo do momento.

— As características essenciais da sociedade americana não mudaram desde que foi completamente militarizada e politizada durante a Segunda Guerra Mundial – as tendências apenas se intensificaram…

— “…Foi durante a guerra que verdadeiros oligopólios e acordos de preço e mercado entraram em funcionamento nos setores dominantes da economia americana…”

— É esse desespero com relação ao longo prazo que explica o estranho otimismo com relação ao curto; pois já que não há esperança para o futuro, o conservador sente que sua única chance de sucesso está no momento atual.

— E o socialismo, estando à esquerda do conservadorismo, era essencialmente um movimento confuso, em cima do muro. Estava, e continua, em cima do muro porque tenta atingir objetivos liberais por meios conservadores.

O AUTOR

Murray Newton Rothbard foi um economista norte-americano, nascido em Nova Iorque em 1926. Foi um importante pensado do movimento libertário moderno e idealizador do que se conhece hoje como anarco-capitalismo, além de fundador do Instituto Ludwig von Moses, em 1982. Publicou livros e ensaios. Morreu em 1995.

PUBLICAÇÃO

O livro “Esquerda e direita: perspectivas para a liberdade”, de autoria de Murray Rothbard, foi publicado no Brasil em 2016, pela editora VIDE EDITORIAL, com apenas 83 páginas, tradução de Alexandre S e apresentação de Dionisius Amendola. Originalmente, nos Estados Unidos, o livro foi publicado em 1965.

CIRCUNSTÂNCIAS

Primeira metade dos anos 1960, consolida-se o novo mundo que se forma após o fim da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos assumem a hegemonia política, econômica e militar. O discurso e o debate se fazem em torno da liberdade. Murray Rothbard se coloca como um libertário e mostra como mudam o tempo todo as perspectivas do que se chama conservadorismo, tomando quase sempre a sociedade norte-americana como ponto de partida para questionar a divisão esquerda-direita.

O LIVRO

“Esquerda & direita: perspectivas para a liberdade”, de Murray Rothbard é um ensaio escrito na primeira metade dos anos 1960, quando esquerda e direita pareciam bem mais nítidas do que hoje. O autor, entretanto, já questionava essa divisão. Preferia colocar no campo de observação os grupos libertários e conservadores, e mostra como, de acordo com as circunstâncias, as posições mudam e às vezes até parecem inverter-se. O Estado está presente em todo o desenrolar da avaliação, assim como os sentimentos de pessimismo e otimismo com o futuro. Os Estados Unidos da América, sua política e sua administração pública, estão em perspectiva por toda a obra.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Murray Rothbard consegue produzir um ensaio original e denso sobre um tema que mesmo hoje continua polêmico. Vale deixar registrado que o texto de análise foi escrito na primeira metade dos anos 1960, quando o mundo estava experimentando uma polaridade crescente, a disputa pela hegemonia entre os Estados Unidos e a União Soviética, origem da Guerra Fria. O autor já era, então (faleceu em 1995), um respeitado intelectual.

Sobre o autor:

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