Resenha do livro “V – L – E – F” (vá lá e faça), de Tiago Mattos

CURTAS

— Não estamos vivendo uma “Era de Mudanças”. Estamos vivendo uma Mudança de Era.

— O hardware da sociedade em que vivemos é totalmente industrial, enquanto o software que já está rodando em muitos de nós já é digital. E sabe o que acontece quando você roda um software atualizado num computador antigo? Dá pau.

— Os quatro lados do tabuleiro: da vontade para a ideia; da ideia para o projeto; do projeto para o negócio; do negócio para a empresa.

— O mais importante é que um planejamento estático não funciona num sistema dinâmico.

— Machos e fêmeas alfa não deixarão de existir. Mas o conceito se tornará líquido. Em outras palavras: todos seremos machos e fêmeas alfa, pelo menos em algum momento.

— Quando do infortúnio, não levante a mão para dar o tapa. Estenda a mão para levantá-lo do tombo.

— Pessoas que não querem melhorar ignoram feedbacks. Pessoas que sabem tudo ignoram feedbacks. Com esse tipo de gente é muito difícil trabalhar. Feedback, se feito com destreza, se dá em tempo real. Porque só feedback em tempo real corrige o fluxo.

— Delegar com mentoria não é dar o peixe. Delegar com mentoria não é simplesmente ensinar a pescar. É um pouco dos dois. É, por vezes, pescar junto…é estar emocionalmente disponível para que todos se sintam seguros.

BONS MOMENTOS

— A escola tradicional, massificada, pública e gratuita tem algumas ferramentas de controle que lembram muito uma fábrica. Tem uniforme. Como uma fábrica. Tem horário de entrada e saída. Como uma fábrica. Tem apito para a entreda e saída. Como uma fábrica. Tem tarefas sistematicamente repetitivas. Como uma fábrica. Tem os estudantes distribuídos em linhas dentro da sala de aula. Como uma fábrica. Tem o espelho de classe e o posicionamento definido. Como uma fábrica. Tem um crescimento linear – série após série. Como uma fábrica…Tem um adestramento através do comando/controle. Como uma fábrica. E não é de se estranhar. Afinal, era esse o intuito do sistema de educação tradicional, pública, massificada e gratuita: ser uma fábrica de pessoas que estivessem aptas a trabalhar em fábricas.

— Se o Pensamento Causal traça um plano com dois pontos bem claros – início e fim, ou onde estamos e onde queremos chegar –, o Pensamento Efetual só se preocupa com o ponto de origem. O fim não é claro. É nebuloso. É blur. O empreendedor consegue ver os próximos passos, mas não todos que o sucedem. E ele nem faz questão, porque sabe que os passos que não estão no seu campo de visão vão mudar assim que ele se movimentar.

— Todo mundo sabe como funciona: o artista sobe até uma determinada altura, e, com o rufar de tambores, começa a caminhar sobre um fio de aço. Sua tarefa é não cair. E a única ferramenta da qual ele se utiliza é uma vara – que serve para contrabalancear o centro de massa, em caso de desequilíbrio. Muitas vezes, logo abaixo, há uma rede de segurança para evitar o pior. Convenhamos: todos estão torcendo para que a apresentação dê certo. Mas, se não der, o show não precisa virar uma tragédia. A analogia do equilibrista ajuda a entender bem como é a educação recebida dentro de casa. Não há dúvida: os pais sempre querem o melhor para os filhos. Os pais sempre querem que os filhos atravessem em segura˜ça de um lado para outro do aço. A diferença é que alguns pais oferecem a vara, outros a rede.

— Há uma indiscutível sabedoria que venero nos teóricos e pensadores, sejam os clássicos ou contemporâneos. Mas devo admitir que a minha verdadeira admiração está nos fazedores. São os fazedores que mudam o mundo. São os fazedores que viram história…Nunca foi tão fácil fazer. Nunca foi tão fácil fazer um livro, uma música, um filme, uma reunião dos colegas do ensino médio, uma passeata contra o presidente, um desfile com modelagens próprias, um partido político, uma casa, um carro, uma operação de câmbio, uma declaração de amor, uma viagem ao redor do mundo. Nunca foi tão fácil fazer uma empresa. Nunca foi tão fácil se sentir empoderado. Nunca foi tão fácil conquistar sua autonomia.

— Se antes governos, marcas e celebridades falavam, e nós tínhamos que aceitar essa versão dos fatos, agora o jogo mudou. Falar perdeu peso. Fazer ganhou. Se você ainda não está muito convencido, perceba o crescimento exponencial desses seis fenômenos, que estão diretamente relacionados ao ato de fazer. São eles: 3D printing, makerspaces, hacking, coding, beta e crowdfunding.

— Hoje, sabemos que líder é todo aquele que promove mudança – no caso, mudança positiva. Líder não é um cargo. É uma postura. Líder é uma forma de enxergar a si mesmo. Líder é uma forma de enxergar o outro. Mas, principalmente, é uma forma de enxergar a si mesmo em relação ao outro. Portanto: a) Se líder é todo aquele que promove mudança positiva. b) Se eu quero o maior número de mudanças positivas na empresa. c) Eu quero o maior número de líderes.

O AUTOR

Tiago Mattos, é multiempreendedor, futurista (formado pela Singularity University, parceria da Nasa com o Google), educador, palestrante (temas como Criatividade, Inovação, Pensamento pós-revolução Digital, inclusive no TEDx) e professor (criou a Perestroika, uma escola singular), assim o autor é apresentado na abertura do livro.

A PUBLICAÇÃO

O livro não tem uma editora responsável e não segue os padrões clássicos do tipo, a própria comercialização do livro também não é a habitual. No total o livro tem 505 páginas. Conta com muitas páginas dedicadas a gráficos e ilustrações de ideias. Ao final, apresenta uma lista de colaboradores e contribuintes e quatro páginas de referências bibliográficas.

CIRCUNSTÂNCIAS

V-L-E-F são as letras iniciais das palavras “vá lá e faça”, e viraram o título do livro. O tema central é o empreendedorismo, um assunto bastante explorado na literatura administrativa e de auto-ajuda empresarial. Entretanto, o autor consegue ser bastante original na formulação de sua análise e na exposição de suas ideias. Digamos assim: ele analisa o espírito empreendedor a partir da realidade mais atual. Não esquece os teóricos clássicos, mas inova ao introduzir novas referências para a área.

O LIVRO

O autor parte de uma base: a existência na evolução humana de três grandes revoluções: a agrícola, a industrial e digital (ou da informação). A partir daí, ele desconstrói os aspectos da era industrial e introduz novos paradigmas.

Este não é um livro sobre negócios, apenas. O autor navega por questões laterais, mas influentes no espírito inovador, como a educação, a psicologia, as neurociências, até a família.

A linguagem é singular, única. A formatação das páginas do livro também desobedecem a todos os padrões tradicionais. O autor parece dialogar com o leitor, e essa sensação vai do começo ao fim do livro. Apesar de não tornar explícita essa intenção, o autor parece querer atingir em especial o público mais jovem (embora qualquer empreendedor mais maduro possa aproveitar o livro).

Há um certo rigor com a base teórica. Tiago Mattos posiciona-se o tempo todo, mas apoia-se claramente numa sólida plataforma de pesquisadores.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Basicamente, o livro é inovador no conteúdo, na forma, na linguagem e, sobretudo, na abordagem atualizadíssima de um mundo que se diferencia cada vez mais do modelo clássico de produção industrial. Empreendedorismo é tema antigo e bastante explorado, mas V-L-E-F consegue ser original, além de atual, útil e agradável de ler.

Sobre o autor:

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