Principais partidos brasileiros perderam sua essência democrática, por Gilvan Mendes

Segundo o filósofo conservador Edmund Burke o termo partido político significa: ”Um grupo de homens unidos para a promoção , através do seu esforço conjunto , do interesse nacional”. Se tivesse a oportunidade de analisar o Brasil contemporâneo , o célebre autor trocaria a expressão ”interesse nacional” por ”interesse particular” e ficaria constrangido com o pouco apego que os chefes partidários brasileiros tem com ideais democráticos . Como chegamos a essa situação?

 No período ditatorial militar  (1964-1985) tivemos o estabelecimento de dois grupos partidários , o ARENA e o MDB , respectivamente o partido de apoio ao regime e a sua ideologia anti-esquerdista e alinhada aos EUA , e a organização que figurava como oposição parlamentar ao governo dos militares.

Na década de 80 , o MDB beneficiando-se da nova lei dos partidos políticos que trazia de volta o pluripartidarismo , se transformou em PMDB. Também nesse momento  o  PT surgiu  como alternativa democrática para o campo progressista não alinhado com a União Soviética. Em 1988 , intelectuais da USP junto com dissidentes do PMDB criaram o PSDB, para que  além de somente se opor ao governo Sarney e suas medidas impopulares , se criasse  uma opção  mais ”light” no terreno  da centro-esquerda.  

Em algum momento essas três grandes organizações políticas foram importantes para o fortalecimento da democracia no País. Talvez não teríamos a Constituição de 88 e o fim do regime militar se não fosse pela oposição feita pelos antigos quadros do MDB. O PT trouxe  a luta dos trabalhadores sindicalizados urbanos  para a cena principal da política brasileira  , além de ter implementado programas sociais importantes para o combate à pobreza  reconhecidos internacionalmente , como o bolsa-família. O PSDB no governo federal deu sequência ao plano real , que depois se consolidou como uma ferramenta essencial para a estabilização da economia. 

Entretanto , todos esses grandes atores esqueceram do seu passado reformista e engajado. Os três  entraram de cabeça na lógica do patrimonialismo e do corporativismo brasileiro. O PMDB entrou nessa empreitada ao abandonar valores ligados ao interesse nacional e se reduzir a um mero grupo oligárquico que ganha eleições estaduais e municipais aqui e acolá. Começou daí uma grande aliança dos peemedebistas com os setores mais coronelistas e corruptos da sociedade brasileira , que vemos até hoje. O PSDB jogou seu engajamento democrático no lixo quando se aliou com PFL antigo ARENA. Depois disso foi ilegalidades e denúncias para todos os lados. FHC até hoje é acusado de ter comprado deputados na votação da reeleição. Já o Partido dos Trabalhadores se perdeu quando preferiu entrar no jogo do sistema político mafioso que temos ao invés de buscar alternativas para uma mudança sistemática do modo de se fazer política nesse País. Enfim , os mesmos sujeitos que criaram um interessante legado democrático , abdicaram dessa herança republicana em nome de interesses particulares nada nobres.   

A crise política que vivemos hoje é sobretudo uma crise de representatividade e popularidade  dessas grandes siglas. Será o começo do fim dos principais partidos brasileiros? Só o futuro dirá.  

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