O AUTOR
Geneton Moraes Neto é jornalista. Nasceu em Pernambuco, no Recife, em 1956, e iniciou sua carreira em 1972, na sua cidade natal, exatamente no jornal “Diário de Pernambuco”. Repórter e editor-chefe do programa dominical “Fantástico”, da TV Globo, Geneton dirigiu a série de entrevistas com quatro ex-presidentes da República. Geneton é autor de outros livros: Caderno de Confissões Brasileiras (Comunicarte, 1983), Cartas ao Planeta Brasil Revan, 1988), Hitler/Stalin – o pacto maldito (Record, 1990), Nitroglicerina Pura (em parceria com Joel Silveira, Record, 1992), O dossiê Drumond – a última entrevista do poeta (Globo, 1994), Dossiê Brasil – as histórias por trás da história recente do País (Objetiva, 1997), Dossiê 50 – os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro (Objetiva, 2000) e Dossiê Moscou (Geração Editorial, 2004).
CIRCUNSTÂNCIAS
O livro “Os segredos dos presidentes”, de Geneton Moraes Neto, é a transposição para o papel da íntegra das entrevistas que o autor fez com quatro ex-presidentes do Brasil para uma série veiculada na Rede Globo.
José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, que exerceram a presidência da república entre 1985 e 2002, portanto, após a redemocratização, aceitaram submeter-se a perguntas mais delicadas diante das câmeras.
A PUBLICAÇÃO
Os Segredos dos Presidentes, de Geneton Moraes Neto, foi publicado pela Editora Globo, com 266 páginas, no ano de 2005. A orelha do livro traz um texto do jornalista Joel Silveira, correspondente de guerra do Brasil (Diários Associados) na Itália, em 1945, qualificando repórteres como “coisa investigativa” e conclamando-os a deixarem o conforto das redações e ir “para a rua”.
A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
O Brasil não cultua seus ex-presidentes, não pelo menos enquanto eles não morrem. Talvez porque não mereçam de fato, provavelmente porque não alcançaram toda a dignidade que a função sugere (no exercício do mandato e depois). Entretanto, jamais deixam de ser alvo da atenção e da curiosidade (política ou não), no mínimo são celebridades, apesar de não se comportarem como estadistas. E precisam dizer pouco para virar história.
De uma sequência de boas perguntas, concebidas por um repórter experiente e capaz, nasce a série de entrevistas veiculada na televisão, depois transformada em livro. As respostas de todos os entrevistados foi comportada, diplomática, o que fez, tanto da série quanto do livro, uma iniciativa jornalística importante, competente e interessante, um bom começo para uma televisão que pouco espaço dá à política e à história.
O LIVRO
Quatro entrevistas com quatro ex-presidentes da república. As perguntas são praticamente as mesmas para todos, apresentadas numa sequência quase igual. José Sarney (presidente de 1985 a 1989), Fernando Collor de Mello (de 1990 a 1992), Itamar Franco (1992 a 1994) e Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) oferecem respostas a questões como: qual foi o melhor e o pior presidente do Brasil? O que o fez chorar? Qual o pedido mais estranho recebido no exercício do mandato? Que figura estrangeira lhe provocou decepção ou admiração? entre outras. Réplica e tréplica, aqui e ali, parecem ter sido evitadas ou atenuadas (na televisão, isso pode ser um problema – ou uma grande oportunidade, a depender do ponto de vista).
BONS MOMENTOS
— SARNEY (sobre renunciar): Não apenas pensei a sério, tomei a decisão. Se o Congresso colocasse o meu mandato em quatro anos, quando eu tinha um mandato de seis…Uma ata do Congresso Nacional, quando de minha posse, diz que meu mandato iria até 1991. Ao assumir uma atitude conciliatória, terminei cometendo o maior erro: achei que, quando dissesse que cumpriria cinco anos, todo mundo acharia bom, porque, na verdade, eu teria tirado um ano do meu mandato. Aconteceu o contrário!
— SARNEY: O presidente Geisel, na verdade, também me ligou para me dar um conselho absolutamente bom, porque era um conselho precioso de um homem experiente. Disse-me o seguinte: “Não discuta o tempo de duração do mandato. Não trate deste assunto. Deixe a Assembleia Constituinte resolver. Se ela decidir contra o tempo a que você tem direito, vá ao Supremo Tribunal Federal e espere que ele resolva. Aceite a solução que for”.
— COLLOR (sobre suicídio): Pensei, pensei. Num determinado momento, pensei em dar fim à minha vida porque o sofrimento foi atroz, brutal, cruel. Para não cometer esse gesto, valeu-me muito uma conversa que eu havia tido com o governador Leonel Brizola…Com aquela forma bem pausada de falar, ele disse, então: “Venho de longe. Já assisti a muita coisa na política deste País. Acompanhei de perto o sofrimento do doutor Getúlio Vargas. O que ele passou não chega aos pés do que o senhor vem passando. Quero lhe pedir, não como político nem como governador, mas como cidadão Leonel Brizola: resista, presidente. Não faça como o doutor Getúlio. Resista”. Nesse instante, os olhos do governador Brizola se marejaram de lágrimas. Os meus também.
— COLLOR: Lá fui eu. Alguém tinha dito a ele que eu seria candidato a presidente. Ouvi de Jânio Quadros esse comentário: “Quantos anos você tem?” Eu respondi: “vou fazer 39”. Como havia uma dúvida sobre se o mandato de Sarney seria de quatro, cinco ou seis anos, Jânio disse: Quando é que vai ser a eleição? Em 89? Você estará com 40 anos! É muito novo! Muito novo! Muito novo! Fui presidente com 43. Deveria ter sido com 53…” .
— ITAMAR: Não virei adversário do presidente Fernando Henrique Cardoso. Conheci-o no Senado. Fomos bons amigos. Tivemos uma boa convivência. Com toda a inteligência e todo o brilhantismo que ele tem, fui o primeiro presidente a fazê-lo ministro de Estado…em seguida, mudou. É hoje um homem que pensa que inventou a democracia. Pensa que inventou o Plano Real. Quanto ao Plano Real, não há problema: ele pode ficar lá. Mas inventar a democracia…Para mim, ele se tornou – me perdoe, presidente Fernando – arrogante.
— ITAMAR (sobre a modelo sem calcinha): Não convidei a modelo para ir a meu camarote. Para saber se ela estava de calcinha, eu teria de pôr um espelho por baixo – ou, então, levantar a saia, o que eu não faria. Mas aconteceu de ela estar sem a calcinha. Não se pode ter medo de dizer que ela estava sem calcinha, porque ela estava, sim. É o que se verificou depois. Mas repito que ela não foi convidada por mim. Alguém a colocou lá, alguém que se aproveitou de um descuido qualquer…Alguém introduziu a modelo ali, maldosamente.
FHC (sobre a morte): Já assustou. Hoje, não…Há o momento de fazer coisas. Deve haver também o momento em que você diz: “Já vivi”. E morre. Isso no processo de morte natural. Já a morte acidental é menos aceitável. Mas a morte natural deve ser encarada com uma certa tranquilidade. Não tenho a angústia da morte.
FHC: Devo dizer que fiquei muito emocionado quando passei a faixa presidencial para Lula. A emoção foi perceptível. Meus óculos caíram, Lula pegou. Por que fiquei emocionado? Porque, bem ou mal, nós “nascemos” em um mesmo momento, o da redemocratização do Brasil. Nós nos conhecemos há tanto tempo. Não era fácil ver uma pessoa como Lula, um trabalhador, chegar `a presidência. Aquilo me emocionou porque era bonito.
CURTAS
SARNEY: Não sou hipocondríaco: sou o próprio doente. Faço “sightseeing” de farmácia.
SARNEY: A minha escolha foi a puor que existia. O Plano Cruzado 2 foi uma tragédia. Paguei caro por ele. O País também.
SARNEY: Quando me perguntaram qual foi o pior político, eu disse: Luís XVI, porque terminou na guilhotina.
O AUTOR: Fora da gravação da entrevista, Collor jura que, desde que tomou posse, já havia uma articulação em marcha para tirá-lo da presidência, feita por uma ala do empresariado de São Paulo… Quem lhe passou a informação foi o ex-deputado Thales Ramalho.
COLLOR: O erro imperdoável do meu governo foi o mau relacionamento do presidente da República com o Congresso Nacional.
COLLOR: Em primeiro lugar, há um ditado: “Vice? Não tê-lo, não sê-lo e, de preferência, nem vê-lo”. Não há nenhuma desavença. É uma questão de compatibilização de caráter. Itamar não é um homem de caráter.
ITAMAR: Eu dizia para o Ney Maranhão: “esse homem é doido”. Ney dizia: …”ele é um doido igualzinho a você. Dois doidos vão dar certo”.
ITAMAR: Disse o ex-ministro Delfim Netto: “todos os números do governo de Itamar Franco eram excelentes, menos a inflação”.
FHC: Sempre abri porta. Aliás, além de abrir porta, sempre apaguei a luz. Eu tinha mania de apagar a luz no palácio, para economizar. Sou, sabidamente, econômico.
FHC: O Ciro mente muito.