Pré-leitura do livro ‘A Palavra que Resta’, de Stênio Gardel. Por Mônica Moreira da Rocha

O método da Pré-Leitura,  desenvolvido por Osvaldo Araújo,  oferece uma abordagem que vai além da simples introdução de uma obra. Ele busca preparar o leitor, proporcionando informação básica sobre o autor, as circunstâncias em que nasce a obra, a importância da publicação, os principais temas abordados e uma seleção de trechos. Ao contrário de uma resenha tradicional, que foca na crítica literária (com rigor técnico na análise e opinião), a Pré-leitura tem o objetivo de despertar a curiosidade do leitor, entregar um aperitivo ordenado da obra e facilitar sua compreensão, ofertando uma base sólida antes do mergulho na leitura.

Com essa proposta, apresento a Pré-leitura de ‘A Palavra que Resta’, de Stênio Gardel.


O AUTOR

Stênio Gardel, nascido em 1980, é formado em Letras e especialista em escrita literária. Ele estreou na literatura com o romance A Palavra que Resta, publicado em 2021, vencedor do prestigioso National Book Award na categoria Literatura Traduzida, uma das principais premiações literárias dos Estados Unidos. Seu estilo combina lirismo com uma prosa acessível, sempre rica em significados simbólicos.

A PUBLICAÇÃO

O livro “A Palavra que Resta”, de autoria de Stênio Gardel, foi lançado 2021 pela editora Companhia das Letras, com 151 páginas.

CIRCUNSTÂNCIAS

O romance de estreia de Stênio Gardel traz à tona a vida de Raimundo, um analfabeto de setenta e um anos, que carrega consigo uma carta que recebeu há décadas, mas nunca conseguiu ler. A narrativa se constrói em torno do desejo de Raimundo de decifrar o conteúdo dessa carta, algo que simboliza muito mais do que simples palavras: é a chave para revisitar o passado, confrontar traumas e buscar um sentido de redenção e libertação.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

“A Palavra que Resta” tem uma importância significativa, tanto pela temática que aborda quanto pela forma como é escrito. O livro traz à tona questões sociais e humanas profundas, como o analfabetismo, a exclusão social, a repressão sexual, e o impacto dessas experiências na identidade e nas relações afetivas de uma pessoa. Ao contar a história de Raimundo, um homem analfabeto que carrega uma carta não lida por décadas, Stênio Gardel faz uma reflexão sobre o poder da palavra escrita como forma de libertação pessoal e resgate da própria história.

A obra destaca a invisibilidade de populações marginalizadas e a luta silenciosa de indivíduos que, como Raimundo, enfrentam barreiras educacionais e sociais em um contexto de pobreza e discriminação. O analfabetismo é tratado como uma forma de opressão, que limita o acesso ao passado, às emoções e até mesmo à expressão de quem realmente somos.

Além disso, “A Palavra que Resta” é uma celebração da capacidade de transformação através da leitura e da escrita. Ele mostra como a palavra tem o poder de curar feridas, restaurar a dignidade e reconfigurar vidas. Ao fazer isso, Gardel também nos faz refletir sobre a importância de tornar o conhecimento acessível a todos, especialmente em regiões mais desfavorecidas.

No plano literário, o livro destaca Stênio Gardel como uma nova e promissora voz da literatura brasileira contemporânea, trazendo um olhar sensível para a vida no sertão e as experiências de pessoas marginalizadas, com uma linguagem que equilibra o lirismo com a realidade dura. Isso faz de “A Palavra que Resta” uma obra relevante não só pelo seu conteúdo, mas pelo impacto emocional que provoca em quem lê.

O LIVRO

O enredo acompanha a vida interior de Raimundo, marcada pela pobreza, discriminação e analfabetismo, enquanto ele enfrenta os desafios impostos por uma sociedade conservadora. A narrativa também explora temas como a sexualidade reprimida e a descoberta do amor, especialmente no contexto opressor do sertão.

Stênio Gardel conduz o leitor por uma jornada de memórias e afetos, revelando o poder transformador da palavra escrita. O livro retrata com sensibilidade o desejo de algo aparentemente simples, mas profundamente humano: compreender a própria história. No romance, o analfabetismo de Raimundo vai além de uma limitação prática, simbolizando uma cegueira que o impede de acessar suas memórias e emoções, bloqueando sua conexão com o passado.

A linguagem de Gardel é poética e direta, oferecendo uma leitura fluida, mas repleta de intensidade emocional. A Palavra que Resta trata da reconquista do eu por meio da palavra, revelando que aquilo que foi silenciado por anos ainda pode ser redescoberto e transformado.


CURTAS

“O que não foi dito pesa.”

“A carta era um grito guardado.”

“A palavra é o que me falta.”

“A vida toda em silêncio.”

“As palavras que não li me prenderam.”

“O amor que eu não soube dizer.”

“A memória insiste em ficar.”


BONS MOMENTOS

– “A vontade, tinha sim, desde menino, mas o pai lhe dizia que a letra era para menino que não precisava encher o próprio prato. Raimundo foi cedo para a lida. De noite, o braço ritmado no golpe da foice pedia descanso, porque no outro dia tinha mais. O intento de aprender se rendeu à precisão.

– “Era como se a vida inteira tivesse ficado presa dentro daquela carta, nas palavras que eu não sabia ler. Cada dia que passava era como se eu me distanciasse mais de mim mesmo.”

“O que me restou foram lembranças, mas elas também são fugidias, como se estivessem sempre a um passo de desaparecer. O passado nunca está completo, sempre falta uma parte que a gente não consegue alcançar.”

“Descobrir a palavra foi como abrir uma porta dentro de mim. Era como se, pela primeira vez, eu pudesse me entender, me libertar de tudo que guardei por tanto tempo.”

– “Eu queria que aquela carta dissesse tudo o que eu não soube dizer, que revelasse o amor que eu guardei e não soube viver.”

Sobre o autor:

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Pré-leitura do livro ‘A Palavra que Resta’, de Stênio Gardel. Por Mônica Moreira da Rocha