Os setores progressistas devem parar de atacar, à toa, o Ciro, por Roberto Bitencourt

Há algumas semanas o candidato presidencial Ciro Gomes (PDT) tem sido submetido, nas redes sociais e em boa parte do webjornalismo alternativo, a uma saraivada de críticas e ataques, por segmentos políticos e sociais sintonizados com o progressismo.

Francamente, queria uma resposta racional para tantas críticas dirigidas ao Ciro Gomes, feitas por estes setores ditos progressistas, em geral associados ao petismo. Na minha humilde opinião, sem ilusões, trata-se de um conservador esclarecido.

Ciro Gomes caminha no mesmo terreno desenvolvimentista do PT e de partidos correlatos, em que pese as inócuas imagens autoprojetadas pelos últimos, de “esquerdas”, “social-democratas” e até mesmo “socialistas”. Entenda-se por desenvolvimentismo uma estratégia de crescimento econômico e de aquecimento da demanda interna, sob os limites da dependência e da subalternidade da economia nacional na divisão social internacional do trabalho.

O desenvolvimentismo, que teve, cada um a seu modo e em épocas muito diferentes, em JK, Geisel e Lula alguns dos seus representantes máximos, está hoje em xeque, por conta do projeto neocolonial das oligarquias liberal-conservadoras e das burguesias internas e externas, que agem empedernidamente para alienar qualquer centro decisório interno, desfazendo, sem mais, de todo o patrimônio público e dos instrumentos de Estado, que permitiram, historicamente, aos desenvolvimentistas recursos mínimos de coordenação das políticas econômicas, da geração de emprego e crescimento econômico.

Ademais, Ciro foi por anos ministro e aliado de primeira hora dos governos do PT. Corresponde ao único líder com alguma expressão que tem ao menos reverberado e flertado com questões, dilemas e desafios importantes para o País, nos últimos tempos.

Mesmo assim, a mim, Ciro não representa. Não vou dar uma de “isentão”: torci pela candidatura do prof. Nildo Ouriques, pelo Psol, como a defendi. Entendo que a sua eventual candidatura tinha muito o que dizer, tocando em temas fundamentais, mas esquecidos e silenciados pelo sistema político e a agenda pública. Não era para ganhar eleição (ainda hoje pergunto: haverá eleição?). Porém, oferecer um diagnóstico honesto, claro e frio sobre o que se passa no Brasil, assim como os riscos horríveis que se descortinam. Mobilizar nossa gente. Um nacionalista, latino-americanista, com orientação socialista, que foi totalmente desconsiderado por seu partido. O que não chega a surpreender, devido à pobreza programática que reflete o Psol.

Pois bem. Ciro, assim como o PT e os seus vizinhos partidários, defende um projeto de País sem suporte na dinâmica das classes sociais de hoje – as burguesias não querem pacto, acordo, negociação com os estratos populares e medianos da sociedade. Apenas entregar tudo, como associadas sabujas e subalternas ao capital internacional. Ciro, como o PT e outros, revela adesão a um projeto desenvolvimentista, sem bases sociais e políticas nessa grave conjuntura marcada por uma reconfiguração ampliada da dependência externa.

Dito isso, convenhamos, nada impede reconhecer as virtudes de Ciro, que oferecem o compartilhamento de algumas ideias e tópicos, convergentes com a preocupação sobre os rumos da Nação. Além disso, o candidato pedetista é um político respeitável, com estofo intelectual e político, de nível bem acima da média no cenário presente. Merece ser ouvido e não depreciado gratuitamente. Um agente político que não pode ser desprezado e desqualificado por nada, sem mais, como se tem feito, O que não impede críticas francas e fundamentadas a ideias e perspectivas por ele esposadas.

Entendo que o Brasil, por sua grandeza real e principalmente latente e potencial, assim como em função da dilatação terrível, em vigor, da nossa dependência externa, espoliação do Povo, marginalização social e do nosso subdesenvolvimento, merece maturidade de todos. Ao menos dos setores ditos progressistas, já que das direitas escancaradas e vende pátria só resta um misto de entreguismo, de reacionarismo e infantilismo.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

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