A opinião pública não quer a verdade, quer confirmar crenças, diz Ignácio Ramonet

Jornal GGN – Em novembro de 2018, La Casa Encendida, um centro cultural de Madri, divulgou no Youtube o vídeo de uma mesa de debate com o jornalista francês Ignácio Ramonet, autor de “A Explosão do Jornalismo” na era da internet. Trechos selecionados e divulgados pelo Jornal GGN, extraídos do vídeo da entrevista (disponível no Jornal GGN):
“Para entender a comunicação no século XXI é preciso entender que naturalmente a opinião pública não busca a verdade. O que a opinião pública busca são informações que confirmem suas crenças prévias.
O que acaba de passar no Brasil de Bolsonaro?
Há uma investigação sobre Bolsonaro ter utilizado oficianas de ciberguerra para infiltrar no WhatsApp mensagens falsas.
No Brasil, as empresas ajudaram Bolsonaro financiando a difusão de mentiras.
Em particular:
– Que o Haddad havia distribuído um kit gay aos meninos de 6 anos nas escolas.
– Que o homem que apunhalou Bolsonaro era militante do PT e amigo de Lula. E havia uma foto de um meeting de Lula com o esfaqueador, uma foto manipulada.
– Uma atriz com os olhos roxos, difundiram que ela foi agredida porque gritou em favor de Bolsonaro. Ela faleceu há 2 anos.
– Disseram que Haddad defendia o incesto e o comunismo.
– E difundiram que se Haddad ganhasse as eleições, ira aprovar uma lei para legalizar a pedofilia.
São exemplo de fake news que permitiram a Bolsonaro ganhar a eleição. 
A internet não impede que uma informação falsa possa se difundir. 
Todas as controversias se alimentam, todas as teses são válidas. Todas as afirmações são legítimas. É a teoria da relatividade em matéria de informação. Não há informação mais válida que outra, se eu a afirmo com mais força.
Na física quântica é possível estar em dois lugares ao mesmo tempo. Hoje estamos diante de informações quânticas. 
Foulcault dizia que a verdade tem uma história. Finalmente o mundo funciona com uma ideia de verdade não-científica, não-racional, que ele chamava de “verdade raio”, porque se manifesta num momento, num lugar e numa pessoa. 
No século XVIII apareceu a “verdade céu”. Um metro mede um metro seja aqui ou em qualquer lugar do planeta. 
A pergunta que faço hoje é se estamos abandonando a “verdade céu” para regressar à “verdade raio”.
Estamos sendo enganados pela ideia de que podemos ter crenças que se podem introduzir no nosso pensamento.
Os psicólogos nos dizem que preferimos crer em realidades alternativas do que na realidade real porque nos dá mais prazer emocional.
Nos EUA, 61% já se informam através do WhatsApp.
Escrevemos o que pensamos que as pessoas querem ler, não a verdade.
A pós-verdade e os meios alternativos estão reposicionando o campo da informação, modificando a batalha eleitoral e contribuindo na influência da opinião pública. É um problema para a democracia, o emocional das verdades fictícias.
É perigoso porque a historia nos ensina que quando desaparece a verdade, também desaparece a liberdade.”

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