O risco para o futuro

Mesmo com o bolsonarismo mostrando força no primeiro turno das eleições presidenciais (com Bolsonaro conseguindo quase 44% dos votos) e se firmando como um polo de oposição que causará danos em um eventual novo governo petista, a lógica das eleições mostra que Lula provavelmente será o novo presidente apartir de 2023. A partir disso, é preciso que estejamos atentos para o problema enorme que poderá descambar para um aprofundamento da crise social e política do nosso país.

O mundo vive em um período de estagnção econômica, rescaldo da grande crise de 2008, da ”globalização chinesa” com o gigante asiático tomando frente de novos mercados na Afríca e no Oriente médio ”abandonando” parceiros antigos, da pandemia de Covid-19 e da guerra Russo-Ucraniana.Tudo isso, certamente será um medonho obstáculo para qualquer governo que tente tomar as rédeas de sua economia doméstica. Por aqui,um governo petista que, mesmo eleito, não consiga impor um programa econômico progressista e que atenda aos interesses da maioria da população brasileira(por razões estruturais do capitalismo global e pela frente ampla que apoia Lula nessas eleições) servirá de base para o fortalecimento(mais ainda) da extrema-direita, que com seus aparelhos de propaganda e deturpação da realidade é bem mais preparada do que a esquerda ou que a mídia tradicional para criar narrativas e conquistar corações e mentes.

A extrema-direita, no mundo todo e principalmente aqui no Brasil, se camufla de liberal na economia afim de conseguir o apoio dos grandes empresários e das camadas médias e de conservadora nos costumes para atrair os religiosos(principalmente os de baixa renda e com pouca escolarização), mas na realidade ela quando chega no poder toca pra frente um projeto de destruiçao da democracia e dos valores modernos como bem destaca a cientista política Wendy Brown[1] em um estudo bem detalhado.

Dada a situação do capitalismo global recém saido de um grave período pândemico e convivendo com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia é improvável que o crescimento econômico que o Brasil precisa para voltar a gerar emprego e gerar receita para os investimentos sociais ocorra em 2023 ou mesmo em 2024(ainda temos que observar como será a atuação do Congresso Nacional mais conservador do que nunca).Há riscos de um governo Lula fique nas cordas contra uma oposição de direita, fortalecida no Parlamento, tornado-se um governo fraco que não impõe sua agenda.

Se isso acontecer, lembrará um pouco do que ocorreu nos EUA com os Democratas.Resolutos em derrotar Trump, o partido apostou todas as fichas na vitória de Joe Biden e quando de fato o ex-vice presidente teve que governar encotrou muitas dificuldades em um país dividido e com os Republicanos detendo um poder significativo no Congresso.Resultado; a avaliação do governo Biden não costuma ser boa, a direita conseguiu vitórias importante em estados-chave, e Trump ascende como o favorito para as próximas eleições presidênciais(se não for preso até lá).

Aqui por perto, na nossa vizinha Argentina, Alberto Fernández surfou na onda da impopularidade do governo liberal de Mauricio Macri e conseguiu uma vitória expressiva(48% dos votos válidos) logo no primeiro turno na última eleição,tendo a veterana Cristina Kirchner como vice. No governo Fernández enfrenta problemas tão amplos que parte dos Argentinos estão apostando suas fichas em Javier Milei um autodenominado libertário que tem como solução para tudo a privatização( Se ele fosse um cliente da Enel ou de alguma empresa de telefonia móvel aqui no Ceará talvez ele mudasse de ideia).

Ou seja; governos democráticos que não entregam resultado acabam fortalecendo politicamente a direita maluca.E esta, por outro lado, expande o autoritarismo onde governa.

Configura-se, portanto, como um grande risco para a democracia brasileira um futuro em que a extrema-direita depois de ter provado o gosto de estar no poder federal, se fortaleça como a salvadora da nação mais uma vez.

Referências bilbiográficas
[1] Brown,Wendy; Nas ruinas do neoliberalismo- a ascensão da política antidemocrática no ocidente.São Paulo;Editora filosófica politeia,2019.

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