No primeiro dia de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse tornando-se presidente do Brasil pela terceira vez. Agora junto com Geraldo Alckmin, ex-tucano e rival político do petista, e uma coligação partidária de 10 siglas, o sindicalista foi escolhido por 60 milhões de eleitores para liderar o país em talvez o momento mais difícil de nossa história recente.O rescaldo da pandemia de Covid-19, a crise econômica global com reflexos por aqui, as consequências deletérias na economia nacional da invasão Russa na Ucrânia e a polarização política são apenas alguns dos grandes desafios que o futuro governo terá que enfrentar e vencer. Antes de tocarmos nesses pontos, abordaremos brevemente os acontecimentos da posse em Brasília.
Segundo relatado pela mídia tradicional, 300 mil pessoas acompanharam a cerimônia de posse na capital federal que contou com um festival de música, no período da noite, que reuniu vários artistas nacionais. O cortejo em si contou com algumas(bem-vindas) quebras de protocolo, como a primeira-dama e a vice-primeira dama estarem juntas com seus cônjuges no carro, depois as duas subiram na frente de seus consortes .Esse protagonismo feminino, marcado principalmente pelo fato de Janja ter liderado a organização do festival, foi um importante ato democrático.Na sessão solene que reunia Senado e Câmara dos deputados a referência que Lula fez ao Piauí, lembrando de um apoiador que lhe deu uma caneta na corrida presidencial de 1989, não foi em vão; o Estado, tradicionalmente lulista, deu uma vitória esmagadora para o petista. Ademais, chamou atenção o longo discurso do atual presidente do Senado Rodrigo Pacheco, certamente querendo ‘’fazer seu nome’’ visando a reeleição em Fevereiro e a cara de poucos amigos de Artur Lira, que certamente fez gelar a espinha de alguns petistas que lembram do abacaxi que será a negociação no Congresso majoritariamente ligado ao Centrão e ao bolsonarismo.
A entrega da faixa, que contou com a participação de representantes do povo brasileiro marcando uma importante mensagem de diversidade e inclusão social por parte da celebração, foi tão simbólica e adequada para esse momento histórico em que as democracias liberais/representativas precisam afirmar seu compromisso com a defesa dos direitos das minorias contra o avanço do autoritarismo que as ausências de Bolsonaro e Mourão foram um alívio. O discurso de Lula foi marcado por um forte tom progressista(que curiosamente diferencia-se do perfil ideológico dos ministros de seu governo, que localizam-se mais ao centro) e crítico da herança deixada por Bolsonaro/Mourão na área social.
O legado econômico liberal deixado por Paulo Guedes foi de desemprego na casa dos 10 milhões, preço da gasolina ‘’normalizado’’ graças a subsídios que uma hora ou outro o povo vai ter que pagar, 33 milhões de pessoas passando fome quase 100 mil na linha da pobreza e cerca de 1 milhão e meio de pessoas esperando na fila do INSS.Sem falar na dívida pública que cresceu, inclusive como resultado da gastança generalizada protagonizada pela administração Bolsonaro para bancar o orçamento secreto e pagar benefícios sociais antes da data especificada para usar como chantagem contra a população na eleição( quem não conhece alguém que votou no 22 com medo de perder o pagamento dos 600 reais do Auxílio Brasil?).No apagar das luzes a antiga gestão ainda proporcionou uma isenção fiscal para grandes empresas que causará um prejuízo na casa dos bilhões para a administração Lula.
Passada a posse e toda sua beleza democrática o novo governo precisa lidar bem com vários desafios.Vivemos neste momento uma espécie de crise do capitalismo que segundo alguns analistas pode levar a uma situação pior ou parecida com o que ocorreu em 2008. O Reino Unido vive uma inflação não vista em 40 anos, com greves recorrentes no funcionalismo público.No outro lado do Atlântico, os EUA também sofre com inflação, desemprego e insatisfação social com o custo de vida.A China, que conta com suas dificuldades domésticas resultantes da pandemia e da política do Covid Zero, registrou um crescimento econômico abaixo do esperado em 2022.Se os ‘’grandões’’ tem seus problemas, devemos esperar por dificuldades nos próximos meses.
A mensagem em favor da diversidade e tolerância foi muito importante, sobretudo se lembrarmos do tipo de mensagem que o bolsonarismo transmitia, a saber, autoritarismo, misoginia, tolerância religiosa, militarismo e etc. Porém, o governo Lula só será bem-sucedido se conseguir trazer bons resultados na economia e na área social, para além do belo simbolismo e da representatividade no postos de comando.Precisa melhorar a vida dos mais pobres,dos trabalhadores assalariados e de parte significativa da classe média. Manter o pagamento mensal dos 600 reais foi uma medida importante, gerar emprego, fomentar programas sociais e educacionais deve ser o complemento desta política.
Gerar crescimento econômico combatendo as desigualdades ao mesmo tempo que agrada a classe média com promoção do consumo e redução de alguns impostos seria um cenário perfeito para Lula.Para ajudar os pobres é preciso tributar os ricos.Como fazer isso com o Congresso conservador que temos? O atual governo não tem maioria para aprovar nem uma PEC e alianças com partidos nanicos costumam redundar em escândalos como o Mensalão.Desafios como esse farão parte do cotidiano do Ministro Haddad e de sua colega Simone Tebet.Certamente a situação atual é bem mais grave do que Lula enfrentou em 2003.Novas estratégias e perspectivas terão que ser muito bem executadas.