Entre a cruz e as redes – EMANUEL FREITAS

O deputado Elmano de Freitas (PT) foi o segundo orador a subir à tribuna da Assembleia nesta quinta (08/11). Um tanto quanto cabisbaixo, anunciou a retirada de pauta, “após ter ouvido Pastor Paixão”, presidente da OMERCE (uma espécie de sindicato de pastores), de seu projeto de lei que versava sobre liberdade religiosa no Ceará. Segundo disse, pensou bem sobre a oportunidade de vir a apresentar um outro projeto, construído em comunhão com Silvana, sua colega de Casa, num texto que contemple os interesses de todos os credos.

Logo em seguida, foi a vez da deputada subir à tribuna, dar glória a Deus pela retirada e “celebrar essa alegria do povo de Deus”, fruto da “aliança de pastores”, mobilizados, e mobilizadores, da retirado do mesmo.

Segundo afirmou o petista, sendo depois confirmado pela deputada, a retirada foi costura num acordo que previa a retirada de um outro projeto, cuja autora é a deputada, que previa punição à manifestações culturais que “vilipendiassem símbolos religiosos”.

Interessante notar que Silvana afirmou que não titubeou em fazer o acordo pois, segundo ela, como evangélica, “não tem símbolo para utilizar”, “nosso símbolo maior é a Bíblia”.

Entendeu bem, caro leitor?

Vilipendiar símbolos religiosos não é uma problema real para ela, posto que, sendo evangélica, não tem nenhum símbolo como sagrado. Protestantes são iconoclastas. A apresentação do projeto nada mais é do que insumo para arregimentar apoiadores, sobretudo entre católicos, pois somos o segundo estado com maior percentual de católicos. Portanto, importa à deputada mostrar-se como defensora de símbolos que ela nem mesmo reconhece como sagrados. Tão logo seu interesse foi contemplado, em relação ao outro projeto, não titubeou. Como ela mesmo disse, era a “arma certa para usar no momento certo”.

O fato é que os “irmãos” puseram seu gládio em ação e venceram, o (mal) elaborado projeto petista. Elmano e seus partidários não preparam-se para possíveis (fortes) embates que teriam pela frente, sobretudo com deputados (Silvana e Luiz) que fazem excelente uso da retórica.

Expostos nas redes sociais como “inimigos da fé cristã”, os petistas, que sobrecarregaram Elmano com o ônus do projeto, não resistiram às empreitadas dos “irmãos”.

Na semana anterior situação semelhante havia sido vivenciada pelo vereador Evaldo, que também viu-se obrigado a retirar de pauta projeto de sua autoria pela desonesta repercussão que teve, a partir da atuação de uma vereadora evangélica e de um vereador da renovação carismática católica.

Entre a cruz (na forma da acusação por parte dos “irmãos parlamentares”) e a exposição de seus nomes em redes sociais como “inimigos da fé”, os deputados e o vereador da esquerda optaram por recuar. Apesar de cultuarem heróis que não tergiversaram (no passado), optaram por tergiversar, não pagar o preço do enfrentamento; ante à desonesta campanha que sofreram, a escolha recaiu sobre a fuga.

Os dois episódios devem servir para que os parlamentares da esquerda: 1) saibam em que cenário estão a atuar (favorável a setores conservadores); 2) o mundo não é mais experienciado pela condição de “trabalhador”, o que os obriga a alargar sua pauta e sua retórica (outras identidades, como a do religioso, jogam papel fundamental); 3) o jogo atual exige um exaurimento de forças no enfrentamento político, mesmo que este exija lançar-se ao opróbrio da cruz.

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