Empresários e trabalhadores: separados na política, afogam-se na mesma crise, por Osvaldo Euclides

A grande maioria dos empresários não gostava e não gosta dos partidos e líderes trabalhistas. E, por falta de afinidade ideológica, são contra seus governos, a priori, mesmo que esses governos possam não ser tão maus, ou até bons. Assim, quando as urnas de 2014 foram apuradas, temeram mais quatro anos de “esquerda”, por mais que os governos recentes do Brasil tenham sido tudo, menos de “esquerda”. Pois bem, os empresários foram para a rua e pediram a queda do governo.

Pena que os empresários não saibam que economia e política andam juntas e são dependentes uma da outra. Homens de negócios, práticos e objetivos, alguns pensaram, ou foram levados a pensar: “tira um, bota o outro, a coisa melhora, esse negócio de voto e democracia é relativo…”.

No mais, o empresário brasileiro agiu por convicção: o homem de negócios que trabalha e produz acreditou que a crise havia chegado ao seu ponto máximo, o país já tinha caído no abismo, não havia como recuar e, trocando a figura que ocupava o Palácio do Planalto, tudo melhoraria, de forma mais ou menos rápida.

Não estavam de todo enganados. Trocada a ocupante do Planalto, rapidamente as coisas melhoraram, só que apenas para alguns, só que para muito poucos. E não são aqueles que trabalham e produzem, são aqueles que fazem a intermediação, aqueles que lidam com a mais ilustre das mercadorias, o dinheiro.

O mercado financeiro está no paraíso que coincide com o novo governo, que se constrói desde o mês de abril. O dólar que havia subido para mais de quatro reais já caiu e se aproxima de três reais. A bolsa que havia chegado ao seu nível mais baixo em décadas, já se recuperou e está no nível mais alto dos últimos quatro anos.

Imagine só: alguém aposta no impeachment e entra no país com um milhão de dólares e os converte a quatro reais e vinte centavos e na mesma hora compra ações da Petrobrás a quatro reais redondos. Como a ação da Petrobrás já está a dezoito reais redondos e o dólar está quase a três reais, advinha quanto ele vai lucrar nesses poucos meses? Cinco milhões e trezentos mil dólares. Entrou com um milhão, sai com seis milhões e trezentos mil dólares.

Não pense que precisa ser um gênio para fazer isso. Banqueiros, corretores e consultores já em março falavam no “rali da bolsa” e “no dólar a três reais”, tudo com Temer.

Você pode fazer a mesma conta com ações da Petrobrás, da Vale, do Banco do Brasil, da Eletrobrás, empresas de siderurgia, de metalurgia, inúmeras outras…os resultados serão parecidos. Se não quis arriscar na bolsa, arriscou só na taxa de câmbio, mesmo assim lucrou em meses o que nenhum mercado no mundo paga hoje em dez anos. O “mercado” está vivendo o paraíso na terra.

Quem perdeu com a bolsa? Todos aqueles que acreditaram que a Petrobrás era uma empresa mal gerida, um antro de corrupção, que estava endividada, quebrada, sem crédito e sem saída. Foi isso que a imprensa brasileira noticiou durante quase dois anos, convenceu muita gente.

Quem perdeu com o câmbio? Em boa parte, o contribuinte brasileiro, através do Banco Central, que, segundo o Estadão, informou ao governo federal uma perda de duzentos e dezoito bilhões de reais no primeiro semestre, grande parte nas operações com taxa de câmbio. Faz parte do papel do Banco Central, dirão.

Mas quem perdeu mesmo, e muito mais do que o governo e os investidores em dólar e ações, foram os trabalhadores e empresários brasileiros. Aqueles, os que trabalham, estes, os que empreendem e produzem, com a recessão e o desemprego. Separados na política, afogam-se na mesma crise.

Sobre o autor:

Compartilhe este artigo:

Empresários e trabalhadores: separados na política, afogam-se na mesma crise, por Osvaldo Euclides