Os investidores da bolsa de valores de um modo geral, e aqueles que especulam com ações da Petrobrás em particular, estão com a respiração suspensa já há alguns dias. O presidente interino nomeou Pedro Parente para presidir a companhia e seu conselho de administração. Mas não pode ainda ter sua ordem obedecida. É que a Petrobrás tem novas regras para admissão de gestores em funções estratégicas, uma consequência de erros de administração que ela não quer deixar acontecer de novo, não admite repetir. O nome de Pedro Parente será pesquisado, sua trajetória profissional será investigada, suas relações e conexões serão focalizadas e criticadas, possíveis conflitos de interesse serão analisados, suas competências e habilidades serão medidas, algo assim, para segurança da empresa e dos seus acionistas (em tese todo o povo brasileiro).
Traduzindo: a Petrobrás está acima e além da onda moralista que se abateu sobre o país e sobre a empresa. Reconhece que errou (ou que alguns erraram e traíram a empresa) e sabe que a Lava-Jato (apesar de punir e dar alguma contribuição) não lava e não purifica ninguém, assim, nada muda se algumas mudanças estruturais profundas não se efetivarem.
Esta é uma das medidas que devem ser consequência da criação de uma diretoria específica para cuidar dessas delicadas questões de governança, que podem facilitar ou dificultar desvio e corrupção: jogar luz sobre conflitos de interesse, aperfeiçoar controles, distribuir o poder de decisão em colegiados, reforçar auditoria interna, fazer rodízio de funções, algo assim, nessa direção.
Essas observações chegam quando o Brasil inteiro fica sabendo de esquemas de corrupção através das desprezíveis figuras dos delatores, vê-se torcendo para que fulano ou beltrano vá para a cadeia, mas ninguém discute as mudanças estruturais indispensáveis para que os fatos não se repitam amanhã.
Pode-se pensar que isso é apenas um descuido dos homens públicos, dos analistas e dos jornalistas. Mas não é. Sobra indignação, falta a mudança estrutural. Indignação, neste caso, é um sentimento (e uma atitude) inútil. Indignação cai bem em pessoas comuns, não em profissionais da gestão, da política ou da comunicação. Indignação, nestas circunstâncias, é cortina de fumaça.
E há décadas não faltam advertências. Lá vai uma.
Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957) foi o italiano que escreveu “O Leopardo” (Il Gattopardo), concluído em 1956. Apesar de se tratar de uma obra deliciosa de ler e mostrar a decadência da aristocracia na Itália do Ressurgimento (movimento de unificação no século XIX), o autor, então ainda inédito, morreu sem conseguir convencer os editores a publicar o livro. A publicação veio um ano após a morte por câncer. Depois, o livro tornou famosa uma frase. A ela os intelectuais se referem como o Princípio de Tancredi (personagem do livro que virou filme, interpretado no cinema por Alain Delon). Ele pode ajudar a entender alguns movimentos da política dos dias que correm, como a tentativa de impeachment, que a cada dia tem mais cara e jeito de golpe:
“A não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude.”