A BELEZA PODE SALVAR-NOS, por Danilo Ramalho

Venho, nos últimos dias, postando repetidas vezes, com arquivos anexo às reproduções de obras de arte, a célebre frase de “a beleza salvará o mundo”, dita por uma das personagens da obra O Idiota, de Fiodor Dostoievski (1821-1881). Frase poderosa e meio profética inspirada em alguém que viajava da Rússia, ao menos uma vez ao ano, para a cidade alemã de Dresden para lá, durante horas – dizem – ficar a contemplar uma das mais belas pinturas de Rafael Sanzio: a Madona Sistina. A terapia da beleza escolhida pelo escritor, também dizem. Eis exatamente o que não temos em nossa sociedade pós-moderna: a busca pelo belo, aquilo que nos dá momentos sublimes de contemplação, caminho para o Divino, que atrai naturalmente a nossa alma (inteligência e vontade).

O grotesco ganha cada vez mais mídia e, o que é muito pior, é ensinado como padrão de para uma geração alinhada também com a alta velocidade (internet), consumo descartável (tecnologia) e ideologias altamente danosas ao bem social (relativismo). Sem parâmetros de inspiração na sociedade (política) o belo talvez seja algo em que se agarrar para não descambarmos para a selvageria de ideias e atos, embora muitos acreditem que já chegamos a estas vias de fato.

Muito antes da Igreja Católica bancar a arte e os artistas europeus, no Renascimento e antes dele, os gregos, inspirados pelo Deus desconhecido – que viriam a conhecer com a chegada do cristianismo, séculos depois, pelas mãos do apóstolo Paulo – sabiam que o homem, na raiz mais profunda do ser, é irresistivelmente atraído pela tríade Verdade, Bondade e Beleza. Mais uma vez se faz necessário a frase: “eis exatamente o que não temos em nossa sociedade pós-moderna”. É possível que a aparente – cada vez mais clara! – ausência destes três caminhos d’alma, vá nos levando ao estado da completa e absoluta falta de perspectivas em relação ao rumo que seguimos, aliás, como nos ensinou o sociólogo e filósofo polonês, Zygmunt Bauman (1925-2017).

E, se estamos na resistência ao belo é porquê não o vemos, não o tocamos e não o escutamos, soterrados sob “toneladas” de ruídos (ao que muitos chamam de música, neste século), de exposição de imagens (o voyeurismo das redes sociais e selfies) e de dados e informações (longe de saber o que fazer [conhecimento] com tudo isto) que infestam nosso dia a dia. Não é por acaso, portanto, a degradação de nossa sociedade que tem cada vez menos oportunidade de ver, tocar e escutar o belo por meio da arte.

Ao se flagrar contemplando as praças de Roma, as obras do Louvre, as igrejas de Mariana e São João Del Rey, os clássicos da literatura e da música universais, o homem certamente quererá se tornar um ser melhor, nascendo daí a salvação do mundo.

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