A terceira via revela questões ainda por resolver da democracia brasileira. Não era um tema relevante no debate político-eleitoral em eleições anteriores como tem sido realizado agora. Só nesse espaço do Segunda Opinião, por exemplo, encontramos Dalton Rosado e Uribam Xavier, com excelentes observações sobre esta novidade, além de alguns vídeos, como os de Clayton e Alexandre. Sempre com excelente qualidade de comentários. E outros devem aparecer.
Se a eleição de 2018 foi considerada golpe, por uma série de razões, principalmente pela prisão de Lula da Silva, que o tirou da competição, quando as pesquisas mostravam ser ele imbatível, sua reconquista dos direitos políticos para se candidatar em 2022, com o mesmo potencial eleitoral, é que torna esta eleição também diferente. E é a razão de ter uma terceira via.
A busca por um nome para essa terceira via, então, mostra também a incapacidade das elites políticas de abrandar a desigualdade social. Isso, o fato de não encontrar alguém competitivo para ocupar esse papel, é que um nome pela direita se torna problemático. Bolsonaro não chegou a consolidar seu carisma e pode ficar descartável mesmo, como Ciro Gomes já o considerava. A chegada de Moro traz não só um certo alento para as elites, mas é a possibilidade de repetir o padrão Collor de Mello e Bolsonaro realizados nas eleições anteriores e já analisados por nós nesse espaço: sem candidato competitivo, os meios de comunicação, com fake News, preparam esses candidatos para serem palatáveis ao eleitor. Seus insucessos na governabilidade mostram que não havia projeto de organização. Foram improvisados. Basta ver que a grande imprensa aderiu entusiasmada à candidatura de Moro, e agora é ver para crer.
Esse dilema da Terceira Via também reflete, entre outras coisas, a fragilidade dos partidos políticos como representação política.
Numa sociedade de economia de mercado, as pessoas não agem como andorinhas, como no provérbio popular: uma andorinha só não faz verão, mas como empresários, com racionalidade.
Os valores modernos, reponsáveis pelo modelo liberal democrático, são a igualdade e a liberdade. No primeiro capítulo de “O Capital”, de Marx, podemos ver que numa economia de mercado tudo vira mercadoria! E como empresário e trabalhador podem se sentir iguais ao empresário? É que o trabalhador é também mercadoria, é pago para disponibilizar parte do seu tempo para produzir mercadoria para os donos dos meios de produção. Como tal, é também mercadoria. O sindicato, portanto, é a forma do trabalhador empresariar suas condições de vida e até seu salário. O mesmo acontece com a representação política, com a Soberania popular. Será via partidos políticos que ele organiza sua hegemonia.
Foi Antonio Gramsci quem refletiu essa realidade política na perspectiva de construção da hegemonia, para criação de um novo bloco histórico, em seu livro Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Para ele, o moderno príncipe é o partido político e é quem tem condições de construir a hegemonia.
Ciro Gomes iniciou como o mais bem sucedido nessa disputa pela terceira via, sendo afetado agora com a chegada de Moro. Em entrevista nas Redes Sociais revelou que poderia governar com o Congresso, sem um partido forte, pois conhecia todos, foram colegas. E essa é a imagem que domina. E Lula é forte na disputa também por possuir um partido político organizado e forte. Para explicar o chamado golpe de 2018, houve uma sistemática da imprensa para tornar o seu partido, o PT, desgastado na sociedade civil. Esses dados reforçam esse argumento do partido.
A governabilidade, num modelo de Presidencialismo de Coalizão, requer partidos políticos organizados, e não compra de parlamentares, no sentido de distorcer a representação política. O caminho da Federalização de partidos irmãos, em debate, pode abrir uma perspectiva alvissareira para fortalecer a democracia brasileira. Vamos em frente!.
Uma resposta
Excelente Matéria; O FATOR LULA E A 3• VIA COMO SUBPRODUTO DAS ELITES.