Segundo Joseph Stiglitz (PrIemio Nobel de Economia), 91% do crescimento da economia mundial foram capturados por 1% dos cidadãos mais ricos, entre 2009 e 2012. Os 99% restantes não viram a cor dos benefícios que o crescimento traz. Ele usa uma comparação : se pusermos num ônibus 80 multibilionários, esse ônibus equivaleria ao total do capital detido por metade da humanidade mais pobre.
Joseph Stiglitz esteve onipresente em entrevistas nos grandes programas de televisão, nas rádios e na maioria dos jornais impressos na semana passada. Sua análise é categórica : a única arma contra a crise é mais democracia, mais participação cidadã. E cita o exemplo da Grécia cujo primeiro-ministro, Alexis Tripras, convocou um referendo para ouvir o povo no momento mais crítico de sua negociação com os credores da Europa. Stiglitz defendeu sempre as posições de Tripras por ter convicção de que o acordo proposto pela Europa vai estrangular o país.
Segundo ele, a recessão no Brasil é multifatorial mas pode ser explicada, em parte pelo fato de o país ter diminuído suas exportações para a China, que sofreu um freio em seu robusto crescimento econômico.
Um de seus conselhos parece ser o oposto do caminho seguido pelo Brasil : « Uma boa política econômica supõe que em caso de recessão se aumente o orçamento do Estado para estimular a atividade. Se, ao contrário, fazem-se cortes no orçamento, a economia se deprime. A isso se chama uma política de austeridade ».
Como solução, o professor prega a criação de regulamentações financeiras eficazes, a reforma do financiamento das campanhas eleitorais, reforma fiscal e investimentos nas infraestruturas, sobretudo educação e pesquisa. « As opções políticas são a causa dos problemas de desigualdade e é pela política que virão as soluções. O mercado não regulará isso », diz o economista.
(Trecho de reportagem de Leneide Duarte-Plon é jornalista, trabalha em Paris e é co-autora, com Clarisse Meireles, da biografia de frei Tito de Alencar, Um homem torturado-Nos passos de frei Tito de Alencar – originalmente publicado em www.cartamaior.com.br)