O AUTOR
Dimas Macedo, nascido em 1956, é escritor, professor e jurista, além de crítico literário. Tem 31 livros publicados.
A PUBLICAÇÃO
O livro “A Face do Enigma – José Alcides Pinto e sua Escritura Literária”, de autoria de Dimas Macedo, foi lançado em 2002, pelo Instituto da Gravura do Ceará, com 106 páginas, projeto gráfico de Geraldo Jesuíno, ilustração de 12 artistas plásticos e 42 fotografias.
CIRCUNSTÂNCIAS
A obra de José Alcides Pinto (1923-2008), composta de 11 romances, 1 texto para teatro, 1 de contos, 1 novela e 2 de crítica literária, editada no exterior em pelo menos 4 línguas, já mereceu monografias, teses e ensaios acadêmicos, além de livros de renomados críticos.
Dimas Macedo realiza este estudo em 2002 e reacende o interesse na leitura de um autor de excepcional originalidade, que inspira adjetivos como exótico, profético, mágico enlouquecido.
A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
Crítica literária séria e consistente é evento cada vez mais raro no cenário das letras, aqui, ali e alhures. Feita em forma de livro, cobrindo toda a trajetória de um autor que tem densidade e realizada por um crítico da mais alta qualificação, bem, talvez isso seja um unicórnio.
Observe como Dimas Macedo abre um dos capítulos:
Convoco as musas risonhas
com suas formas estéticas
da vida extraio as patéticas
maneiras de ver o mundo
e dos abismos profundos
do ser tal como um esteta
com a visão de um profeta
e os sonhos de Baudelaire
faço profissão de fé
para falar de um poeta.
Para na página seguinte continuar:
É um poeta maldito
bucólico e visionário
diabólico e solitário
tal como o foi Mallarmé
descende dos Tremembés
e de um pastor de ciganos
inda no verdor dos anos
teve a visão das quimeras
e o rastro da besta-fera
persegue sempre seus planos…
O LIVRO
O livro se apresenta numa especialmente bela peça gráfica, a partir da capa e em detalhes ao longo do percurso do leitor.
O conteúdo está distribuído em seis capítulos. O primeiro faz um roteiro biográfico de Alcides Pinto. Em seguida, Dimas Macedo oferece uma visão panorâmica da trajetória das publicações de JAP. Uma iconografia selecionada de quarenta fotografias antecede um conjunto de “décimas a José Alcides Pinto” da lavra de Dimas. Os dois últimos capítulos estão dedicados à Bibliografia de JAP e ao perfil dos doze artistas plásticos que ilustraram este livro.
Em tudo, este livro é uma rara e preciosa peça. Na última página uma surpresa para os que tiverem o privilégio de conhecê-la.
INSIGHTS
“Os críticos literários e os leitores mais desavisados, especialmente aqueles mais ou menos displicentes, talvez se assustem um pouco com o que vou afirmar: José Alcides Pinto é um dos grandes escritores brasileiros deste século.
“…José Alcides Pinto, infelizmente, não apareceu indexado em um certo cânone cearense, elaborado pelo suplemento Sábado do jornal O Povo, de Fortaleza, em Janeiro de 1997. Não foi sequer comparado com os marcianos, nem arrolado na lista dos desaparecidos.
“O sensualismo, que foi sempre uma constante em toda a sua obra, no Silêncio Branco já aparece sem a angústia que o caracterizou no passado. O poeta agora está mais sereno, mais calmo, mais ‘espiritualizado’…
“O jornalismo e a literatura, assim, pareciam funcionar no seu íntimo como uma força difícil de domar. Isso o levou a arrefecer o impulso que de há muito vinha nutrindo pela política…
“Sem trabalho é perseguido pela polícia, perdeu a tutela de Pedro Pomar, então com mandato de Deputado Federal cassado, passando a dormir pelos bancos do Passeio Público.
BONS MOMENTOS
“Vanguardista, insubmisso, desobediente e inovador na criação de processos ficcionais e na restauração da linguagem poética, José Alcides Pinto é considerado o mentor do Movimento Concretista no Ceará, e o seu representante mais destacado, sendo, por isto mesmo, luminosa a sua trajetória literária, iniciada, aliás, com um livro que o poeta ainda hoje rejeita.
“Com cinquenta títulos editados ou reeditados, alguns dos seus contos foram traduzidos para o inglês, o francês, o italiano e o espanhol, enriquecendo ainda a sua fortuna literária a correspondência que manteve ao longo de sessenta anos de literatura, com escritores nacionais ou estrangeiros…
“Mas, na vasta bagagem literária e singular desse grande escritor cearense, há um livro que foge às classificações: trata-se de Manifesto Traído (1979), trabalho que o autor subintitulou de Depoimento/Memória — um misto de autobiografia e ficção, mas que expressa, no fundo, um romance de trama existencial definida. Um texto, por assim dizer, todo ele aberto à exposição da condição humana, no que ela tem de mais vulnerável e questionador.
“Resta ainda dizer algo em torno de Senhora Maria Hermínia — Morte e Vida Agoniada (Prêmio Nacional Petrobrás de Literatura/1988), que compreende uma saga recheada de muito misticismo e violência, veiculada num texto que documenta o encontro de duas forças aparentemente antagônicas — o cangaço e o misticismo religioso, representado, o primeiro, pelo bando de Lampião e seus asseclas, e o segundo pela figura carismática do Padre Cícero Romão, o Taumaturgo de Juazeiro, e também pelo Beato José Lourenço do Caldeirão.
“A sua construção poemática, como um todo, para além de uma linguagem clara e eloquente que a tem permeado, apresenta pelo menos quatro principais matrizes temáticas, que são a lírico-amorosa, a pornô-fescenina, a épico-social e a existencial-diabólica.