VITÓRIA DO DIFUSIONISMO

O século XIX produziu muitas teorias. O difusionismo ficava entre o óbvio e o equívoco. Dizia que as inovações técnicas e culturais se propagavam pelo mimetismo, o intercâmbio ou conquista militar. A vertente britânica, liderada na Inglaterra pelo australiano Grafton Eliot Smith (1871 – 1937), ironicamente chamada “heliocêntrica”, por considerar que o processo civilizatório se desenvolveu a partir somente do Egito. Equívoco. A versão alemã, liderada por Wilhelm Schmidt (1868 – 1954) e Fritz Graebner (1877 – 1934) admitia a existência de múltiplos centros de difusão. Óbvio.

A crítica mais veemente ao difusionismo tratou do desenvolvimento econômico. Os difusionistas diziam que a industrialização iria se difundir. O desenvolvimento chegaria aos povos subdesenvolvidos. Podemos falar em países de industrialização precoce, como Inglaterra e Holanda, aproximadamente de 1760 a 1850; de um período intermediário, com França, Alemanha, Bélgica e EUA se industrializando entre 1820/30 e 1890, e os tardios: Itália, Suécia, Rússia e Japão, entre 1870 e 1920 aproximadamente. Recentemente países como Brasil, México, China, Índia, Turquia, Tailândia, Malásia e África do Sul foram alcançados pela difusão do processo. Confirmaram a irradiação do industrialismo. Não teve, porém, o reconhecimento da comunidade intelectual.

Teses distintas ou críticas do difusionismo referente ao desenvolvimento econômico foram muito mais aceitas. A Teoria da Dependência é um exemplo disso. Ao invés de uma propagação do desenvolvimento, ao modo da difusão, percebia na assimetria das relações internacionais um fator de agravamento das condições de vida dos menos desenvolvidos. O subdesenvolvimento era apresentado como o avesso do desenvolvimento, causado pelas relações desiguais. O argentino Raul Prebisch (1901 – 1986) foi um dos nomes mais destacados desta corrente. Nunca foi dito, mas se o subdesenvolvimento era produzido pelas relações internacionais desvantajosas, então o estado original dos povos deveria corresponder abem-estar do desenvolvimento. A visão idílica de um passado assemelhado ao paraíso perdido talvez tenha influenciado tal concepção.

Eduardo Hughes Galeano (1940 – 2015), escritor e jornalista uruguaio, na obra “As veias abertas da América Latina”, popularizou uma vulgata do dependentismo que esgotou dezenas de edições. Anos depois o autor citado faria uma autocrítica. Disse que ao tempo em que escreveu a mencionada obra não entendia nada de economia e reconhecendo os equívocos que cometera. Como na alegoria das folhas espalhadas ao vento, Galeano não conseguiu recolher o que havia espalhado. O alemão André ou Andreas Gunder Frank (1929 – 2005), um dos maiores dependentistas, depois de algum tempo trocou a Teoria da Dependência pela tese do sistema mundial. Foi uma defecção mais importante, do ponto de vista acadêmico, do que a de Galeano. Também não repercutiu. Teoria sem vítima, perseguidor e receita de salvação não é sedutora.

A difusão do desenvolvimento, observável até a olho nu, permanece esquecida. O que começou na Inglaterra e Países Baixos, se difundiu, em momentos diferentes, pela França, Alemanha, Bélgica, EUA, Itália, Suécia, Rússia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, China e, em ritmos diferentes, por todo o mundo. Todos os indicadores de qualidade de vida mostram os benefícios da “impiedosa” racionalidade econômica. É mais romântico, porém, falar na injustiça que melhora a qualidade de vida.

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