A essência da coisa aparece de verdade quando está ameaçada de desaparecer. Este ensinamento nós o estamos comprovando nesses momentos nebulosos desde o Golpe da direita em 2016 contra a democracia brasileira.
Hoje recebo do Departamento da Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a comunicação de que o monitor de whatsapp nesses últimos dias está inundado de memes contra as universidades federais, com ridicularizações de monografias, dissertações e teses, além de imagens de pessoas nuas em festas, induzindo os leitores a pensar de haverem sido realizadas em campi universitários, demonstrando uma ação orquestrada em massa, seguindo o mesmo estilo-fake das milícias digitais da campanha eleitoral presidencial. Um trabalho de profissionais. Quem os estará financiando para promoverem tal desinformação e calúnia contra a universidade pública?
Esse método de ação é formado por um exército de milicianos, base de sustentação do governo Bolsonaro, que arquitetou um sistema de bombardeio midiático viral e veloz de propagação de crenças para formulação de consensos superficiais e ágeis. Essas milícias digitais que emergem com ferocidade nesse contexto de pós-verdade instalado no Brasil desde o Golpe de 2016 são o avesso de uma cultura democrática em rede gestada no início deste século, com o governo LULA, por uma multidão de pessoas para o aperfeiçoamento da coisa pública tendo em vista o bem comum. A questão que se coloca para o pouco de democracia que ainda nos resta é como barrar essa manipulação robótica, centrada em fake news, que se arvora a se estruturar como um novo modelo de gestão da política motivada pelo pensamento autoritário?
Dias atrás esteve na Hungria, país governado também pela extrema-direita, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Reuniu-se com o presidente Viktor Orbán. Este tem tido problemas na União Europeia devido ao trato dispensado ao Judiciário. Orbán aprovou em dezembro uma lei a criar um Supremo paralelo. Este julgará casos de interesse do governo. Coisas como eleições, protestos de rua e corrupção. Será composto por indicados do Ministério da Justiça. Será um “Supremo” submetido ao Executivo. Talvez por isso haja essa campanha de difamação do STF brasileiro? Estão querendo repetir a façanha húngara?
Nunca é por demais lembrar que uma das estruturas do Golpe de 2016 centrou-se num tipo de comunicação hipnótica, na qual o conjunto dos meios hegemônicos televisivo, radiofônico e escrito produziam de forma orquestrada conteúdos diários, com verdades não comprovadas, para insuflar e conduzir o sentir, o pensar e o querer dos telespectadores submetidos massivamente à manipulação semiótica. O objetivo era bem preciso: criar um clima de sentimento de ódio a Dilma e ao PT, por meio de notícias artificiais que penetrassem o pensamento popular capaz de levar os ouvintes a uma ação de rua, seja vestindo camisas amarelas ou batendo panelas tramontina. Entre tantos exemplos podemos destacar os protestos nos postos de gasolina quando esta chegou ao preço de R$2,80 (dois reais e oitenta centavos). Muita gente protestando histericamente, com ampla cobertura da mídia global. Hoje, o governo Bolsonaro autorizou o litro da gasolina a R$4,80 e ninguém diz nada, nem a mídia nem os paneleiros amarelinhos. O massacre hipnótico midiático agora é outro: chama-se reforma da previdência.
Entende-se o ódio deles a Paulo Freire e ao seu método pedagógico. A pedagogia freireana desenvolve o pensamento reflexivo e crítico diante da realidade concreta no qual o educando entende-se com o poder de atuar no tempo-espaço para modifica-lo segundo sua capacidade de sentir, refletir e agir politicamente sobre o mundo. É essencialmente um método de educação com fundamentos éticos libertadores. A ética desponta como ferramenta necessária para questionar aquilo que é e não deveria ser, juntamente com aquilo que não-é e deveria ser. Promover o pensamento crítico da população não é o desejo desse governo nem dos meios de comunicação hegemônicos que se valem de sua hipnose tanática. Por isso Paulo Freire é declarado inimigo número um do bolsonarismo. Viva Paulo Freire! Viva a sua ação cultural libertadora!