Uma breve análise sobre o favoritismo de Camilo Santana, por Cleyton Monte

A primeira pesquisa de intenção de voto produzida pelo IBOPE confirma o favoritismo do governador Camilo Santana. Dois números merecem atenção especial. Desconsiderando os votos brancos e nulos, Santana atinge 86% das intenções eleitorais. Se esse índice for confirmado em outubro, será uma das maiores vitórias do país. Além disso, o governador tem a menor taxa de rejeição entre os seis candidatos. O que esses dados nos revelam?

Desde a redemocratização, o Ceará não registra uma vantagem tão esmagadora. Nem mesmo Tasso, no auge do seu poderio, iniciou um pleito com tamanha envergadura. O maior trunfo de Camilo é o seu extraordinário leque de alianças. Vinte e quatro partidos integram a coligação governista. O apoio de muitas siglas não significa apenas minutos na propaganda eleitoral. Representa uma poderosa rede de vereadores, prefeitos e deputados se articulando diariamente em suas localidades. Com o fim do financiamento empresarial e o inédito fundo eleitoral, ter uma grande coligação traz consigo mais recursos e a capilarização da candidatura. Essa mega estrutura foi construída com as benesses da máquina estadual e fortalecida com os bons índices que o governo apresenta junto à opinião pública. O governador que tenta reeleição geralmente parte com grande vantagem sobre seus adversários. Entretanto, dizer que o favoritismo de Camilo é obra exclusiva da habilidade de seu grupo é faltar com a verdade.

A pesquisa divulgada pelo IBOPE expôs a decadência da oposição. O General Theophilo, candidato da oposição que registra o melhor índice, tem apenas 4% das intenções de voto. Historicamente, o situacionismo marca os arranjos políticos no Ceará, contudo, nunca se chegou a tal nível de desorganização e fragilidade das forças de oposição. Nos últimos quatro anos, perdeu-se a oportunidade de se construir uma alternativa coerente ao projeto liderado pelos Ferreira Gomes. Eunício e Domingos Filho passaram a integrar a eclética aliança governista. Tasso e Capitão Wagner não renovaram suas estratégias, ficando isolados politicamente. Não que o governo petista seja o melhor dos mundos. A segurança pública é um desastre. A saúde pouco avançou. Nas áreas da Cultura e meio ambiente não temos nada de relevante.

Portanto, o predomínio de Camilo na primeira pesquisa se deve às articulações do grupo dos Ferreira Gomes, artífices de uma poderosa rede de aliados e às debilidades de uma oposição que coleciona fracassos e incoerências. A máquina governamental e partidária ainda faz diferença na disputa estadual. No entanto, na corrida presidencial, o desempenho de Ciro Gomes no Ceará se mostra bem aquém do esperado (com ou sem Lula). São lógicas distintas. Vamos aguardar! O jogo está só começando!

Cleyton Monte

Doutor em Sociologia, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (LEPEM), membro do Conselho de Leitores do O POVO e professor universitário.