A cultura militar e a cultura jurídico-forense oferecem semelhanças e convergências surpreendentes.
O esteio da autoridade e da hierarquia delineia o território de corporações poderosas e a escolha seus membros dispensam critérios eletivos, que não sejam, supostamente, os do mérito ou da precedência por galões, titularidades ou de mera antiguidade.
Ao contrário do legislativo e do executivo a investidura nos poderes da toga e da farda dispensam a consulta popular de eleições. São, por essa razão e por critérios outros, categorias “de Estado”. A decisão do Congresso na escolha dos magistrados dos tribunais são, de fato, parte de um ritual no qual o povo não é ator participante.
Essas circunstâncias revelam a íntima vocação de militares e juízes pelo respeito da autoridade e dos poderes legais que enfeixam em suas mãos.
Por essa curiosa afinidade no cumprimento dos encargos que exercem constitucionalmente, a cultura castrense demonstre semelhanças e afinidades tão evidentes na defesa dos seus poderes em defesa da ordem, das leis e, como de ouve tanto repetir, do Estado de direito.
A balança e a espada são os símbolos perfeitos de como se enxergam militares e togados no cenário republicano de uma democracia. Espada que corta e a balança que pesa são a expressão mais evidente de como quartéis e tribunais percebem a extensão do seu papel e a extensão da sua força na organização do Estado e na engenharia do governo.
Os tropos pouco democráticos eructados por comandantes militares e ministros da Alta Corte, vindos agora a público, graças à descoberta de manifestações antigas, tornam claros os limites indefinidos de togados e fardados.
A mídia, como é da sua índole, esquece por hora sua aplicação às graves questões de imunização e do combate ao Covid e mergulha em um intrincado de considerações apontando responsabilidades e afinidades eletivas com a ditadura.
Pois chegamos ao que estava a faltar na decomposição da república federativa brasileira: o confronto entre códigos, ritos e normas e a defesa das instituições e da ordem interna.
As ditaduras nascem e se impõem quando há excessos de leis e regras e falta de povo.