TODA LUTA É COLETIVA

Ontem, 14 de janeiro, no programa semanal de Bolsonaro para suas mídias de apoiadores (https://www.youtube.com/watch?fbclid=IwAR1iVB8XeTHi0ogcjcowoFwmd7ypMeUxQx5sPkrXyjRI0Fxf3SyNo8auaXc&v=-tTgxztuqTs&feature=youtu.be), a partir dos minutos 15, tivemos a oportunidade de acompanhar e registrar o diagnóstico proferido pelo ministro da saúde, no cargo há quase um ano, desde abril de 2020, general Pazzuello, sobre a situação da Covid-19. Ele demonstrou, muito claramente, ter posse dos números da gravidade do avanço da pandemia no Brasil. Segundo o general, de cada 10 pessoas entubadas, 07 vêm a óbito. Ou seja, um nível alarmante de mortalidade para um fenômeno considerado como uma simples “gripezinha” pelo seu chefe superior.Um dado concreto, inquestionável e irrefutável da urgência da vacinação imediata de toda a população brasileira, a começar pelos grupos de risco. Hoje já são, pelos números oficiais, cerca de 210 mil pessoas mortas em nosso país.

Em seguida, Pazzuello deteve-se em apresentar os números da capital do Amazonas. Relembrou que Manaus já havia apresentado seu primeiro colapso de atendimento sanitário às pessoas infectadas pelo vírus em abril do ano passado, apontando como causas deste agravamento a falta de pessoal capacitado para o atendimento – médicos e profissionais de enfermagem – além de uma infraestrutura hospitalar bastante reduzida, com um dos menores percentuais do país, segundo o general. Ou seja, além dos dados acima citados, também estes, ele com seu ministério já os possuíam desde abril de 2020. Era preciso, no mínimo, desde abril passado, contratar imediatamente pessoal e construir unidades de atendimento (hospitais de campanha), como ocorreu em outros países. Por que o governo federal não o fez?

Mesmo diante de posse dos números tão explícitos, que compõem este cenário caótico, informação estratégica com a qual se pode inclusive fazer uma projeção para outros estados da região e do país, o seu chefe superior minimizou a gravidade da Covid-19, como também não se ateve para o cenário desfavorável das cidades brasileiras para o enfrentamento da pandemia, conforme demonstram fartamente suas declarações e seus atos públicos ao longo de todo o ano de 2020.

Com relação ao agravamento da situação em Manaus, agora no início do ano, na referida “live”, Pazzuello declarou que “a procura por oxigênio na capital subiu 06 vezes, são 75 mil metros cúbicos de demanda diária na capital”. Porém, informou que a produção de oxigênio na White Martins está no limite. Mais uma informação de alta gravidade, uma vez que o oxigênio não é apenas necessário para doentes agudizados pela Covid-19, mas também para todos os outros pacientes que estejam necessitando de terapia intensiva. Conforme o ministro completou, nas cidades do interior do estado há ainda mais 15 mil metros cúbicos diários requeridos. Por fim afirmou que os próximos cinco ou seis dias serão críticos: “é uma situação extremamente grave porque a fila para leitos cresce bastante a cada dia”.

No dia 13 janeiro, a entidade internacional Human RightsWatch publicou seu “Relatório Mundial 2021”, (https://www.hrw.org/pt/news/2021/01/13/377542), com 761 páginas (na versão em inglês), no qual acusa o presidente Jair Bolsonaro de sabotar medidas contra a disseminação do Covid-19 no Brasil, disseminando informações equivocadas. Em função dessa sabotagem, conforme o Relatório, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi forçado a intervir contra as tentativas do governo federal de retirar dos estados a competência de restringir a circulação de pessoas para conter a propagação da pandemia; de suspender a lei de acesso à informação; de deixar de publicar os dados completos sobre a situação brasileira. Além disso, o Congresso aprovou um projeto de lei obrigando o governo Bolsonaro a fornecer cuidados de saúde emergenciais para os povos indígenas, e STF ainda ordenou que o governo Bolsonaro elaborasse um plano para combater a disseminação da Covid-19 para os povos indígenas.

Importante registrar que os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus também precisam de cuidados. Se antes da pandemia, plantões noturnos com suas situações críticas e inesperadas já levavam muitos destes profissionais à exaustão, com a precarização das condições devido ao aumento da carga de trabalho, conforme atestado acima, só elevou a situação para níveis ainda mais preocupantes. Segundo algumas enfermeiras que estão atendendo pacientes infectados pelo coronavírus, muitos profissionais vão precisar de tratamento psicológico diante da tensão vivida diariamente.

Toda luta é coletiva. Esta parece requerer uma ação ainda mais intensa e coordenada. É preciso que a população brasileira, os movimentos sociais, setores progressistas das igrejas, as universidades, os sindicatos, os blogs progressistas, as prefeituras recém-empossadas, os governos dos estados e o Congresso Nacional construam imediatamente uma agenda conjunta capaz de um enfrentamento eficaz e efetivo contra as aberrações denunciadas no “Relatório 2021 do Human Rights Watch”(https://www.hrw.org/pt/world-report/2021/country-chapters/377397). O ano apenas começou. Essa luta reveste-se de uma importância vital pela nossa sobrevivência, retomada de nossa democracia e afirmação de nossa soberania como Nação.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .