Arquivos em Tags: conto

ENVELOPE

Um envelope dentro do quispo preto. Era Outono. Um hotel ao virar da esquina. A barbeira ia encontrar-se com um amigo. Há dias aquele fez-lhe um convite: posar para uma revista erótica. O tema da semana problematizava profissões em renovação

Bem-aventurados

Entrámos na capela do antigo convento branca e nua. Ao fundo uma sombra moveu-se com rapidez. Terei sido só eu a vê-la? Eu girei sobre os calcanhares e pus-me a olhar para uma mulher cheia de anéis ao meu lado.

Do Outro Lado da Rua

Ele não atravessou a rua. Ela sempre acalentou seus medos. Colocou-os no colo, afagou-lhes com amor e respeito. Nunca criticou sua ausência de movimento.
A não travessia de Joaquim sempre fora a dor e a esperança de Catarina, até o dia

MUNCH

A minha cabeça cheia de pó tomba para o lado. Já são 10h e nada acontece. Domingo, dia de Inverno, muita chuva, não se passa nada. Foge-me todo o sangue para o rabo. Eu estou nu, não me ergo do

A ÚLTIMA PERGUNTA UMA SEGUNDA VEZ

Dizem 
 que um dia um planeta chamado Terra se acabou, exaurida.
Menos que lenda, era claro que era besteira: pensar que a humanidade tenha surgido num planeta tão remoto com um nome tão estranho.
Onde realmente se originou a humanidade? Agora que tudo

ÁLCOOL

Jaime Soares gargalha daqui até à lua. Hoje, o seu pai, a quem como alimento deram sobretudo ruindade, põe os pés ao caminho para deixar o álcool. A pele brilha, mal se senta para conversar com o pai sobre uma

Lendo a Bíblia: regalo natalino

O velho testamento é uma culpa hereditária.
Não falarei de queda, conotação negativa e inscrição do tripalium: comerás com o suor do teu rosto.
Mas, para entrarmos já no tema do sacrifício, Caim e Abel, a primeira briga entre irmãos se deu

O LIVRO FANTASMA DE UM MINISTRO MORTO

“Deus tenha piedade desta nação.” (Eduardo Cunha)
Sonhei que vivia num país estranho, tão estranho que só no meu sonho existiu, e que alguém assassinava o primeiro ministro daquele lugar inusitado que o sono inventou.
Ninguém sabia como tinha sido, que arma

CORES

O artesão conduzia um carro vermelho. Ford coupé, 1940, tubo de escape roto. O dia aparentava estar soalheiro e barulhento como tudo. O seu destino era o Hotel Cordelinho, na Baixa. O artesão, que tinha óleo nas mãos, gritava obscenidades

A promessa, por DUARTE DIAS

Por que demorara tanto para percebê-lo? Seria por causa dos homens que se insinuavam toda vez que entregava salgados ou sopas dormidas no balcão da lanchonete? Era aquele ambiente sem respeito que fazia com que ela ignorasse a todos, inclusive