O FALATÓRIO COMUM DOS GERAIS

Quem foi que disse — e eu fico logo é atenazado com a prascóvia pergunta — Que Diadorim não era feito nunca homem, Ainda que em corpo de mulher em Filigranas sutis de buriti bem construída? Quem o cujo, apois? Então: o peito que Riobaldo, Envergonhado, quis beijar, era crespo de masculinos pelos: O coração […]

Memento mori

Juro amor meu não morrer nunca e Amanhã não mais mentir Em ambas as promessas o meu profundo amor Por uma pessoa (tu) como se fosse infinita e O meu próprio coração maior que o Nilo Meu peito não contém águas abundantes nem seus crocodilos Minha vida um dia acaba (Estarei então cansado e deitado […]

ARSENAIS DO ESPÍRITO

Saiba odiar — Também é necessário — O próprio amor é demais agressivo Saiba odiar Mas saiba a quem e quanto E descansar o ódio feito massa crua Saiba odiar Como quem tensiona e distensiona um músculo Como quem trabalha porque precisa Nem sempre é agradável o trabalho E pode mesmo não ser agradável nunca […]

Deusa distante gente

Eu desejo o desejo dum desejo Uma justificativa um eco Solitário quarto de despejo Saída impossível do meu ego

Augustus

Em agosto que vem te amarei Feito no mês anterior e depois. Agradeço Às coisas vivas da vida o contigo Encontro. Pergunto o que de mim, Tão pobre, se não fosse O teu sorriso de praia e tua pele Plena, escura, cheia, bonita. Eu Quero, do verbo querer, completo, Um tempo de ti muito lento, […]

Tempus fugit

Enquanto o vento levava as latas de cerveja E os moços falavam de política, Muito inteligentemente, aliás, Eu pensava no quanto te amo — Roberto cantava no toca-fitas —, E me imaginava, pobre de mim, Dançando pra ti num próximo futuro, E pra ti tirando minha roupa, Peça a peça. Vou começar pelo chapéu, Pelo […]

Imobília

Eis, morto aos teus pés, o tempo imóvel, Inocente, pego de surpresa, feito uma criança prodígio Que morresse de tifo sem realizar esperança alguma Nem frustrar de uma outra forma as cruéis expectativas Ou de fraqueza, muito antes da possibilidade das palavras, Ainda mais absolvida e, mesmo assim, condenada injustamente, E nem sabíamos do que […]

Arcano Onze

Sob a sombra da tua ausência Penso em nunca mais dormir Até que o sono vem. Penso em Já não comer e a fome assalta. A sede Me surpreende com suas urgências Uma correnteza inesperada me derruba. Acreditei que esqueceria os dias E me chamaram as obrigações de trabalho E de dinheiro. Embora nada acumule […]

Romance IX

A corrosão inerente começa quando adiamos as coisas, quando começamos a negociar com o tempo de uma forma que o tempo não permite: o tempo feito o mar não tem cabelos, mas também, igual ao mar, não tem uma cara em que se possa bater; mas, o mar, ao menos, é uma massa de água […]

Romance X

A literatura é o sorriso de uma sociedade — banguela: somos todos meio filhos do escorbuto (ai, a súbita vontade inexplicável de fazer essa declaração no mais dantesco toscano). Uma bela pobreza em preto e branco, sob uma crua luz de cinema novo, a necessidade de lembrar a Glauber Rocha que graças a Deus não […]

Romance IX

O EDITOR NO CASTELO A heráldica da editora dizia: “As árvores se acabam”. Em certo momento, a placa com a frase anunciava a entrada de um prédio vazio: o editor, tirano, tinha se mudado e instalado sua editora numa caravela. Submetia seu corpo voluntariamente a vergastadas diante do olhar atônito do resto da tripulação: foram […]